RELAÇÃO ENTRE PRATICA PEDAGOGICA E CIDADANIA
PRÁTICAS
DE CIDADANIA NA ESCOLA E NA SALA DE AULA
Aida
Maria Monteiro Silva
“Formar o cidadão é dar as orientações básicas de
respeito e de condição social. A condição social é que faz o cidadão.
É conscientizar e para isso é fundamental a
escrita, a leitura, a compreensão do mundo. Através da educação, o aluno vai
saber conhecer os seus direitos, as suas obrigações e saber respeitar o
próximo. Saber ser
Na história do povo brasileiro nunca se falou tanto em
cidadania e em direitos humanos como nas últimas décadas. Essa temática vem se
constituindo em um dos focos de interesse de diferentes instâncias da
sociedade: movimentos sociais, meios de comunicação, partidos políticos,
organizações sindicais, instituições governamentais e não governamentais e o
meio acadêmico.
A motivação por essas questões eclodiu,
principalmente, com o processo de redemocratização da sociedade brasileira,
após longo período de mutilação da cidadania, no qual os direitos civis e
políticos foram cerceados, e devido ao distanciamento que separa o direito
proclamado e a sua concretização, mesmo a despeito de o Brasil ter avançado em
termos político-jurídicos dos ideais proclamados da democracia, conforme democrática
da história do país, conhecida como a “Constituição Cidadã”, na qual os direitos
foram ampliados em todas as dimensões: civil, política, social e cultural.
No entanto, o avanço da democracia, no campo do
ordenamento jurídico, não foi acompanhado de políticas públicas mais
conseqüentes, de forma a assegurar à maioria da população os direitos
fundamentais, principalmente os sociais, e fortalecer o regime democrático.
Essa situação faz com que a sociedade brasileira conviva com uma permanente
contradição – o desrespeito aos direitos humanos e a negação da cidadania, pelo
próprio Estado. uma normalidade, pois não são percebidas como injustiças graves
por aqueles que as sofrem.
No
conjunto dos dados estatísticos, o Brasil atravessa uma crise econômica e
social que se apresenta de forma mais visível nas grandes cidades. Essa crise
tem se agravado nos últimos anos com o fortalecimento do projeto neoliberal,
que não favorece a efetivação da cidadania.
Segundo Vera Candau (1998, p.11), a política
neoliberal implantada no país dificulta o fortalecimento da cidadania e da
democracia, pois: formação da cidadania, através do trabalho desenvolvido na
escola pública, temos a clareza de que a escola sozinha não dá conta da tarefa
de formar o cidadão, uma vez que a formação da cidadania vai além de seus muros.
Ela é forjada no dia-a-dia das relações dos indivíduos e no conjunto das organizações
da sociedade, a exemplo dos movimentos sociais que têm apresentado contribuições
relevantes nesse processos de capacitação dos sujeitos responsáveis pela sua
implantação.
Nesse entendimento, a formação desses sujeitos deve
possibilitar, além da apropriação dos conhecimentos básicos, dentro de um
contexto histórico e político dos direitos humanos e da cidadania, a mudança de
valores, atitudes e posturas. Essa formação compreende a apreensão de uma nova
cultura em que o educador se perceba, bem como perceba o aluno e os demais
integrantes do trabalho escolar, como sujeitos de direitos e deveres, e veja a
escola como espaço de exercício permanente de construção coletiva da cidadania.
Analisar a escola enquanto “locus” de formação
da cidadania democrática, requer a explicitação dos conceitos básicos que
orientaram este trabalho. Compreendemos que a formação da cidadania está
imbricada no entendimento que se tem de democracia e direitos humanos em um
determinado contexto social, cultural, político e econômico.
Partimos do princípio de que o regime democrático é o
que oferece melhor condição para o respeito e a fruição dos direitos humanos,
bem como a formação da cidadania.
Compreendemos democracia na perspectiva de Fábio
Comparato (1989), como sinônimo de soberania popular com total respeito aos
direitos humanos, fundada nos princípios da liberdade e da igualdade. A
igualdade é aqui entendida no sentido de igualdade diante da lei e de garantia
do acesso aos bens sociais e às condições básicas necessárias a uma vida digna
para todos os indivíduos. A liberdade é algo inerente à condição do ser humano,
em termos da liberdade de expressão, de pensamento, de ir e vir, de participar
e de intervir na construção do projeto de sociedade em que o indivíduo está inserido.
Neste trabalho, assumimos o conceito de direitos
humanos a partir do pressuposto do direito à vida, condição primeira, sem a
qual deixam de existir os outros direitos, e do reconhecimento da dignidade
intrínseca ao ser humano. São os direitos fundamentais a toda pessoa, sem
distinção de etnia (raça), opção sexual, credo religioso, opinião política, sexo,
nível de instrução, posição sócio-econômica, julgamento moral ou nacionalidade.
E a cidadania, na perspectiva democrática, é a materialização dos direitos
legalmente reconhecidos e garantidos pelo Estado, que inclui o exercício da
participação política e o acesso aos bens materiais. É, também, a condição de
participar de uma comunidade com valores e história comuns, a qual permite aos
indivíduos uma identidade coletiva. É, na verdade, o pleno exercício do
direito.
Nessa
direção, a prática pedagógica voltada para a construção da cidadania
democrática
é essencialmente romper com a cultura autoritária, de submissão, de mando, impregnada
nas diferentes relações sociais; é criar uma nova cultura a partir do entendimento
de que todo e qualquer indivíduo é portador de direitos e deveres; é garantir o
acesso ao conhecimento que permita-lhe apreender a complexidade das relações e determinações
do conjunto da sociedade; é prepará-lo para sua inserção no mundo do trabalho,
para compreender o avanço tecnológico e a participação ativa na organização da sociedade.
Para
que a escola possa desenvolver um trabalho nesta perspectiva, faz-se necessária
a construção de um projeto pedagógico, democrático e participativo, em que a formação
do sujeito possa ser assumida coletivamente. Esse processo se desenvolve na prática
diária, através da apreensão dos conteúdos curriculares e na vivência do
exercício da cidadania.
PRÁTICAS
DE CIDADANIA NO ESPAÇO ESCOLAR
Ao
assumirmos neste trabalho que a escola é um dos principais “locus” de formação
da cidadania e tem como função principal a socialização dos conhecimentos historicamente
acumulados e a construção de saberes escolares, algumas questões orientaram
nosso olhar para o interior da escola: qual o objetivo dessa formação, como esses
saberes estão contribuindo, quais os valores, comportamentos, atitudes e
hábitos que têm permeado a prática escolar? Como a escola organiza o trabalho
na perspectiva dessa formação?
Assim,
organizamos a análise dessas questões em duas grandes categorias: a dimensão
organizacional-administrativa e a dimensão pedagógica
A
prática docente: avanços e dificuldades
Ao
analisarmos a ação docente partimos do pressuposto de que o professor tem um papel
fundamental a desempenhar nesse processo, enquanto mediador entre o conhecimento
sistematizado e o aluno, mas, principalmente, pela possibilidade de trabalhar valores,
comportamentos e atitudes.
Dessa
forma, concordamos com Mônica Thuller (1994) que “a mudança em educação depende daquilo que os professores pensarem dela
e dela fizerem e da maneira como eles a conseguirem construir ativamente” (p.33).
Na
busca de compreendermos como os professores construíram a prática docente e de
que forma esta contribui para a formação da cidadania, focalizamos a nossa
análise, partindo inicialmente da seguinte questão: É
possível desenvolver na escola pública um projeto pedagógico na perspectiva da
formação da cidadania? A maioria dos educadores afirmou:
“Isso é muito trabalhado na escola. Cidadania não é
isolada, a gente trabalha todo dia. A partir do momento que se ensina ao aluno
como se comportar, a ter um comportamento diferente na sociedade, mostrar os
prós e os contra. Então, se está trabalhando a cidadania. É ensinar o aluno o
que é votar, quem eles vão colocar lá em cima para fazer alguma coisa pela
pobreza. É conversar sobre isso tudo com os alunos para que no futuro tenha uma
juventude mais politizada, consciente dos seus deveres”.
“É complicado, muito difícil. Deve ser por conta
dessa contradição toda. Quando você diz: é possível? deve ser possível. Eu não sei
se isso surte efeitos, que tipo de efeito essa política, o que o Estado espera
com isso”.
“A
luta pelos direitos humanos se dá no cotidiano, em nosso dia-a-dia, e afeta
profundamente a vida de cada um de nós e de cada grupo social. Não é mera
convicção teórica que faz com que os direitos sejam realidade, se essa adesão
não é traduzida na prática em atitudes e comportamentos que marquem nossa
maneira de pensar, de sentir, de agir, de viver” (1995, p.99)
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