7 ações para combater a evasão na EJA
Conheça a seguir algumas medidas que ajudam a diminuir as faltas
e a evasão de jovens e adultos
Marcelo Andrade (novaescola@fvc.org.br). Com reportagem de Anderson Moço, de Niterói, RJ,
Beatriz Santomauro, de São João do Oeste, SC, e Paola Gentile, de Silves, AM
1 Uso de variadas linguagens
O que é
Incorporar atividades relacionadas à arte e à cultura.
Por que dá resultado
Utilizar linguagens alternativas, como a música, o cordel
e o teatro, facilita o aprendizado, principalmente de estudantes mais velhos,
que geralmente têm mais proximidade com a cultura popular.
Onde deu certo
Em Salvador, no bairro Pariri, um subúrbio ferroviário, a
direção do CE Sete de Setembro chamou a atenção dos alunos de EJA com projetos
de música, cultura e literatura. Um deles é o Tempo de Artes Literárias, que
promove uma competição saudável na escola ao estimular a produção de textos
(prosa e poesia) por meio de rodas e saraus literários. Em 2009, o vencedor
saiu de uma das turmas de EJA. Também foram realizados festivais para
incentivar a produção musical e trabalhos de temática afro-brasileira e
indígena. "A culinária desses povos, por exemplo, pode ser explorada nas
aulas de Matemática, ao falar das quantidades de ingredientes utilizados em
cada prato", explica Diógenes Ribeiro, diretor da escola. Ele credita o
sucesso dessas ações ao uso da linguagem oral - em que muitos adultos têm
desenvoltura - juntamente com a escrita.
2 Reorganização do tempo
O que é
Elaborar um cronograma de aulas ajustado à
disponibilidade dos alunos.
Por que dá resultado
Organizar os dias e horários das disciplinas segundo as
necessidades da turma garante o atendimento contínuo e a reposição de aulas.
Onde deu certo
A EEB Madre Benvenuta, em São João do Oeste, a 698
quilômetros de Florianópolis, passou em 2009 por uma reformulação em seu
sistema de ensino para as turmas de EJA. A ideia, implantada nas cinco escolas
estaduais da região, foi oferecer duas disciplinas por semestre, com aulas
presenciais duas vezes por semana - de preferência, entre segunda e
quinta-feira. "A gente evita as sextas porque tem muita programação na
comunidade e os alunos acabam faltando", explica Roque Neiss, coordenador
do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) da cidade. Pesquisas, lições
de casa e outras atividades complementam a carga horária de estudo. São,
portanto, menos horas presenciais e mais trabalhos a distância. Tudo é
corrigido pelo professor, que leva para casa as tarefas e as devolve com
comentários. As faltas permitidas se limitam a duas por semestre - desde que
avisadas. O aluno pode, depois, combinar um horário com o docente para repor o
conteúdo perdido. "Essa organização contribuiu para que muitos adultos que
tinham desistido de estudar voltassem para a escola", comemora Neiss.
3 Currículo contextualizado
O que é
Construir um currículo que dê mais significado à
aprendizagem.
Por que dá resultado
Por que dá resultado
Associar temas do cotidiano às disciplinas faz com que os
alunos entendam o assunto com mais facilidade.
Onde deu certo
A Escola do Batatal, localizada na área rural de
Mangaratiba, a 103 quilômetros do Rio de Janeiro, fez uma série de ajustes no
currículo depois que indústrias do setor siderúrgico e de energia se instalaram
no local. As diretoras Lucilene de Souza e Adriana Lopes da Silva criaram eixos
temáticos para tratar os diversos assuntos surgidos com o desenvolvimento da
região. Entre eles, a relação entre a urbanização e a vida no campo, a
socialização como uma forma de integração da comunidade a seu entorno e o uso
da tecnologia no cotidiano. Visitas ao caixa eletrônico e ao shopping center,
por exemplo, foram organizadas para familiarizar a turma com as novidades. A
iniciativa fazia parte do projeto Relendo o Mundo pelas Lentes da Educação, que
mereceu a Medalha Paulo Freire, do Ministério da Educação (MEC), em 2009, na
categoria Alfabetização de Jovens e Adultos.
4 Articulação com empresas
O que é
Entrar em contato com empresários do setor público e
privado para estabelecer parcerias com a finalidade de facilitar o acesso dos
alunos à escola e evitar atrasos.
Por que dá resultado
Por que dá resultado
Melhorar o transporte público nos bairros escolares ou
estimular os funcionários a estudar, flexibilizando o horário de trabalho, são
bons exemplos de parcerias que podem ser sugeridas aos empresários.
Onde deu certo
A oferta precária de transporte no bairro da EMEF
Reginaldo de Souza Lima, em Paragominas, fez com que a direção da escola e a
Secretaria Municipal de Educação procurassem as empresas de ônibus para melhorar
a regularidade das linhas no período noturno. Também foram promovidas reuniões
com dirigentes de empresas privadas e públicas, nas quais os alunos trabalhavam
para conscientizá-los da importância de incentivar os funcionários a frequentar
a sala de aula. Outras medidas adotadas com êxito: flexibilizar o horário de
entrada em 15 minutos, alterar as datas das provas quando o estudante não pode
ir devido ao trabalho e realizar visitas dos orientadores educacionais à casa
daqueles que faltam para convencê-los a voltar.
5 Atendimento aos
filhos
O que é
Criar uma infrasestrutura para receber os filhos dos
alunos.
Por que dá resultado
Para os alunos que não têm com quem deixar os filhos,
levá-los à escola enquanto estudam pode ser determinante para que não faltem às
aulas.
Onde deu certo
Quando foi diretora da EM Nossa Senhora das Graças, em
Silves, a 300 quilômetros de Manaus, Francisca Artemísia Almeida da Silva tinha
três turmas de EJA na escola. Entre 2004 e 2008, ela recebeu o programa
Reescrevendo o Futuro, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em parceria
com a Secretaria Estadual de Educação. Como o número de mulheres com filhos
pequenos matriculadas no programa era alto, ela designou uma funcionária de
serviços gerais para cuidar das crianças que iam com os pais para lá - medida
sem custo, visto que foi feito um remanejamento de funções. "Reservamos
uma sala com brinquedos e demos um lanche para que as mães possam estudar
tranquilas. As que têm bebês podem ficar com eles na sala de aula. Faltas
mesmo, só em caso de doença", diz Francisca.
6 Atendimento individual
O que é
Oferecer um plano de estudos personalizado segundo as
possibilidades de cada aluno.
Por que dá resultado
Por que dá resultado
Planejar aulas de forma individualizada permite que cada
adulto estude de acordo com seu ritmo e com o tempo disponível.
Onde deu certo
No CE Duque de Caxias, localizado em Corbélia, a 513
quilômetros de Curitiba, o estudante monta sua grade de horários segundo as
disciplinas oferecidas e sua disponibilidade de tempo. É possível, por exemplo,
cursar apenas uma matéria em um semestre e passar para três no seguinte.
"Eles recebem orientações do professor separadamente, apesar de assistirem
às aulas em grupos", explica a diretora da escola Nilcéa Schwambach Medeiros.
Assim, um aluno que trabalha na agricultura, como muitos na região, pode faltar
até 30 dias em época de colheita sem se prejudicar. "Se fossem reprovados
por faltas, eles nem fariam a matrícula", diz Elcio Luis Vitalli,
vice-diretor da escola.
7 Acolhimento e merenda
O que é
Oferecer refeição aos alunos e incentivá-los a estudar.
Por que dá resultado
Os estudantes que vão diretamente do trabalho para a
escola não ficam com fome e podem se concentrar mais nas aulas.
Onde deu certo
Na EM Diógenes Ribeiro de Mendonça, em Niterói, na região
metropolitana do Rio de Janeiro, a merenda é servida antes das aulas e inclui
refeições reforçadas com carne-seca e abóbora. Bem alimentados, os alunos têm
mais disposição para se concentrar nos estudos e não chegam atrasados. Além
disso, há o cuidado para que se sintam acolhidos e vejam a instituição como uma
parceira - é comum os estudantes desistirem de estudar por problemas de saúde,
com a família ou de desemprego. Quem falta por mais de três dias recebe um
telefonema da escola. Se, mesmo assim, o aluno continua ausente, o professor e
os colegas escrevem uma carta para dizer que estão sentindo a falta dele e
pedir que volte logo. E, se preciso, alguém da equipe gestora vai até a casa do
faltoso para conversar pessoalmente. "Manter uma relação próxima e
amistosa ajuda a evitar a evasão", diz a diretora, Kátia Christina
Fernandes.
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