O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLA


O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLA
                                                                                                                                         Josué Geraldo Botura do Carmo
Abril/2009
“Um ritmo permanentemente crescente de desenvolvimento necessita de um sistema educacional muito desenvolvido, que não se reduza à formação profissional e à manipulação ideológica”.
 Manuel Castells
A Secretaria de Educação Básica define Currículos como sendo uma construção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas em contextos concretos e em dinâmicas sociais, políticas e culturais, intelectuais e pedagógicas. Os conhecimentos e as práticas estão suscetíveis às novas dinâmicas e reinterpretados em cada contexto histórico. Os currículos são orientados pela dinâmica da sociedade, em um percurso contínuo de aprendizagem, socialização e desenvolvimento humano.
Para Lima (2008) a escola garante a continuidade da espécie, “socializando para as novas gerações as aquisições e invenções resultantes do desenvolvimento cultural da humanidade”. Em determinado momento sentiu-se a necessidade de criar um espaço e um tempo separado da vida cotidiana para que as gerações se encontrassem, para que se pudessem transmitir novas formas de saberes que estavam sendo criadas. Para a autora a tarefa do adulto hoje é a de promover o processo de humanização que seria a apropriação das formas humanas de comunicação: adquirir e desenvolver os sistemas simbólicos que permitam a utilização dos instrumentos culturais necessários para as práticas mais comuns da vida cotidiana até para a invenção de novos instrumentos, para a criação nas artes e nas ciências, e ainda desenvolver os movimentos do corpo possibilitando a preservação da saúde e as práticas culturais para realizar os vários sistemas de registro, como o desenho e a escrita.
Ainda para autora um currículo democrático deve visar a humanização de todos, provendo e facilitando o acesso de tudo o que não está acessível às pessoas: bens culturais, equipamentos, instrumentos das ciências e das artes. E um currículo para a formação humana está sempre aberto para a introdução de novos conhecimentos, não se limitando aos conhecimentos relacionados às vivências do educando, às realidades regionais, ou ao conhecimento do cotidiano. Partimos sim, metodologicamente, da experiência cultural do educando, mas como caminho para a ampliação da experiência humana. E um currículo voltado para a formação humana está a serviço do respeito à diversidade. Não podemos nos esquecer que o conhecimento individual vai influenciar no conhecimento coletivo e em uma sociedade mais humana. O conhecimento é um bem comum que deve ser socializado a todos os seres humanos, e o currículo é um instrumento que pode ser usado para essa socialização. É importante ressaltar que o conhecimento resulta da “organização” de informações em redes de significados, através de símbolos, da percepção, da memória, da atenção e da imaginação.
Segundo ainda a autora, as atividades fundamentais para a aprendizagem dos conhecimentos escolares são: leitura, observação, registro, organização, relato e comunicação. O importante é que cada um construa seus métodos próprios de aprendizagem e desenvolva a autonomia para se utilizar das fontes de conhecimento formal, e que o educando desenvolva a consciência do conhecimento e de suas aplicações.
Para Arroyo (2008) duas são as questões a que devemos nos propor resolver em primeiro lugar: “como a organização curricular condiciona a organização da escola e por consequência do nosso trabalho?”. E “que organização dos currículos e da escola tornará nosso trabalho mais humano?”. E depois: “que lógicas, concepções, valores regem, legitimam essa organização?” “São igualitárias, democráticas, inspiradas no referente político da garantia do direito de todos ao conhecimento, à cultura, à formação como humanos?” “São lógicas que permitem a humanização do trabalho dos profissionais das escolas?” “que igualam ou hierarquizam os docentes?”. Para o autor precisamos primeiro trabalhar essas questões para depois inovar temas, didáticas, atualizar disciplinas ou acrescentar temas transversais. Para ele repensar e orientar os currículos podem ser as novas sensibilidades para as identidades docentes, as mudanças em nossa consciência profissional de trabalhadores em educação. Primeiro precisamos reagir à condição de aulistas e avançar na autoria de nossa prática, reivindicando horários de estudos, planejamento, tempos de atividades programadas, tempos coletivos, que implicam em sujeitos mais qualificados e com maiores tempos de qualificação e controle de seu trabalho, amenizando dessa forma o mal-estar nas escolas na relação educando/educador: indisciplinas, desinteresse e problemas de aprendizagem. Essas imagens reducionistas que veem o educando como empregáveis, como mercadoria para o emprego e os educadores como treinadores e preparadores de mão-de-obra habilitada é que faz da escola um ambiente desmotivador. E precisamos garantir “a igualdade de todo o conhecimento, cultura, valores, memórias e identidades sem hierarquias, segmentações e silenciamentos. Olhar o ser humano em sua totalidade: sujeitos cognitivos, éticos, estéticos, corpóreos, sociais, políticos, culturais, de memória, sentimento, emoção, identidade. Para ele pensar na reorientação curricular significa incorporar no currículo as interrogações dos educandos”.
E Arroyo afirma com muita propriedade: “Atrever-nos a incorporar a formação dessa pluralidade de dimensões enriquecerá os currículos, a docência e a pedagogia”. E podemos afirmar que essa atitude valorizará os trabalhadores da educação perante a sociedade.
Moreira e Candau (2008) consideram que gestores e docentes precisam organizar os tempos e os espaços escolares para abranger as atividades de pesquisa dentro da instituição, fazendo com que o trabalho do profissional da educação seja mais valorizado, através de nosso desempenho profissional, e ainda despertar nos educandos o espírito de pesquisa, de busca, de ter prazer no aprender, no conhecer coisas novas.
Gomes (2008) nos convida a refletir sobre o tempo e o espaço escolar, condicionados e cristalizados, que parece ser impossível a flexibilidade dos mesmos. A que concepção de escola essa atual estrutura serve? Muitos problemas crônicos talvez pudessem ser amenizados ou mesmo solucionados se voltássemos nosso olhar para o tempo e a arquitetura de nossa escola, visando uma escola democrática e um currículo que contemple a diversidade. Para a autora, a construção de uma escola democrática implica em repensar as estruturas e funcionamento dos sistemas de ensino como um todo, reorganizando o coletivo dos professores, criando tempos mais democráticos de formação docente e discente, alterando a lógica e a utilização do espaço escolar e garantindo uma justa remuneração aos profissionais da educação. Precisamos fazer com que o ambiente escolar supere esses tempos mal remunerados, autoritários, extenuantes e alienantes.
Fernandes e Freitas (2008) fazem uma distinção interessante entre medir e avaliar. Para os autores a avaliação é uma atividade voltada para o futuro. Medir é parte da avaliação e refere-se ao presente e ao passado, visando obter informações a respeito do progresso efetuado pelos estudantes. Avaliar refere-se, segundo os autores, à reflexão sobre as informações obtidas com vistas a planejar o futuro. Os autores nos falam de uma nova perspectiva de avaliação possível, marcada pela lógica da inclusão, do diálogo, da construção da autonomia, da participação, da construção da responsabilidade com o coletivo, visando uma escola mais democrática, inclusiva. Acabando com a concepção daquela avaliação punitiva, classificatória e excludente, pois o papel da escola é o de promover crescimento, desenvolver possibilidades para que os sujeitos realizem aprendizagens vida afora, socializar experiências, perpetuar e construir cultura. Uma avaliação capaz de auxiliar professores e estudantes a compreenderem de forma mais organizada seus processos de ensinar e aprender. Uma avaliação interativa, dialógica e formativa.
Para os autores acima “o que viabiliza uma melhor qualidade de ensino são professores bem formados e informados; condições de trabalho; recursos materiais; escolas arejadas, claras e limpas, com mobiliário adequado, com espaços de estudo, de pesquisa e prazer para professores e estudantes”.
É o projeto político-pedagógico que fixa os indicadores a serem alcançados pelo coletivo da escola. Este deve facilitar a articulação com a comunidade local, participando das demandas a serem feitas ao poder público, reivindicando ações de políticas públicas vitais para o funcionamento da escola.
Fala-se hoje em currículo democrático, em humanização e em respeito à diversidade cultural. Entendo que o que queremos hoje é uma democracia participativa, dentro de um ambiente de interatividade, em prol de uma melhor qualidade de vida para todos. Contudo para tanto necessário se faz reestruturar o funcionamento da escola: os seus tempos e os seus espaços. E depois inovar temas, didáticas, métodos e técnicas de ensino, e atualizar disciplinas, a partir das interrogações dos educandos.
Uma educação baseada na participação, na inclusão, no diálogo e no prazer. Uma sociedade de seres autônomos.

BIBLIOGRAFIA
ARROYO, Miguel G.: Educandos e educacores: seus direitos e o currículo. In: Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 56 p.
FERNANDES, Claudia de Oliveira. FREITAS, Luiz Carlos de. In: Indagações sobre currículo Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 52 p.
GOMES, Nilma Lino. Diversidade e currículo. In: Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 44 p.
LIMA, Elvira Souza.: Currículo e densenvolvimento humano. In: Indagações sobre currículo Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 52 p.
MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa. CANDAU, Vera Maria.  Currículo, conhecimento e cultura. In: Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 48 p.

Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC – NTE-MG2.

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