DIVERSIDADE E CURRÍCULO Nilma Lino Gomes
Do ponto de vista cultural, a
diversidade pode ser entendida como a construção histórica, cultural e social
das diferenças. A construção das diferenças ultrapassa as características
biológicas, observáveis a olho nu. As diferenças são também construídas pelos
sujeitos sociais ao longo do processo histórico e cultural, nos processos de
adaptação do homem e da mulher ao meio social e no contexto das relações de
poder. Mesmo os aspectos tipicamente observáveis, que aprendemos a ver como
diferentes desde o nosso nascimento, só passaram a ser percebidos dessa forma,
porque nós seres humanos e sujeitos sociais, no contexto da cultura, assim os nomeamos
e identificamos.
Não é tarefa fácil para nós,
educadores e educadoras, trabalharmos pedagogicamente com a diversidade.
Mas não será essa afirmativa uma
contradição? Como a educação escolar pode se manter distante da diversidade
sendo que a mesma se faz presente no cotidiano escolar por meio da presença de
professores/as e alunos/as dos mais diferentes pertencimentos étnico-raciais,
idades e culturas?
A educação de uma maneira geral
é um processo constituinte da experiência humana, por isso se faz presente em
toda e qualquer sociedade. A escolarização, em específico, é um dos recortes do
processo educativo mais amplo.
Durante toda a nossa vida realizamos aprendizagens de naturezas mais
diferentes. Nesse processo, marcado pela interação contínua entre o ser humano
e o meio, no contexto das relações sociais, é que construímos nosso
conhecimento, valores, representações e identidades. Tanto
o desenvolvimento biológico, quanto o domínio das práticas culturais existentes
no nosso meio são imprescindíveis para a realização do acontecer humano.
Os currículos e práticas
escolares que incorporam essa visão de educação tendem a ficar mais próximos do
trato positivo da diversidade humana, cultural e social, pois a experiência da
diversidade faz parte dos processos de socialização, de humanização e
desumanização. A diversidade é
um componente do desenvolvimento biológico e cultural da humanidade.
A presença da diversidade no
acontecer humano nem sempre garante um trato positivo dessa diversidade. Os
diferentes contextos históricos, sociais e culturais, permeados por relações de
poder e dominação, são acompanhados de uma maneira tensa e, por vezes, ambígua
de lidar com o diverso.
Nessa tensão, a diversidade pode ser tratada de maneira desigual e
naturalizada.
Por mais que a diversidade seja um
elemento constitutivo do processo de humanização, há uma tendência nas
culturas, de um modo geral, de ressaltar como positivos e melhores os valores
que lhe são próprios, gerando um certo estranhamento e, até mesmo, uma rejeição
em relação ao diferente. É o que chamamos de etnocentrismo. Esse fenômeno, quando
exacerbado, pode se transformar em práticas xenófobas (aversão ou ódio ao
estrangeiro) e em racismo (crença na existência da superioridade e
inferioridade racial).
Seria muito mais simples dizer que o
substantivo diversidade
significa variedade, diferença e
multiplicidade. Mas essas três qualidades não se constroem no vazio e nem se
limitam a ser nomes abstratos. Elas se constroem no
contexto social e, sendo assim, a diversidade pode ser entendida como um
fenômeno que atravessa o tempo e o espaço e se torna uma questão cada vez mais
séria quanto mais complexas vão se tornando as sociedades.
A diversidade faz parte do
acontecer humano. De acordo com Elvira de
Souza Lima (2006, p.17), a diversidade é norma da
espécie humana: seres humanos são diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas personalidades e são
também diversos em suas formas de
perceber o mundo. Seres humanos apresentam, ainda, diversidade biológica. Algumas dessas diversidades provocam impedimentos de natureza
distinta no processo de desenvolvimento das pessoas (as comumente chamadas de “portadoras de necessidades
especiais”).
O discurso, a compreensão e o trato
pedagógico da diversidade vão muito além da visão romântica do elogio à
diferença ou da visão negativa que advoga que ao falarmos sobre a diversidade
corremos o risco de discriminar os ditos diferentes.
Como toda forma de diversidade é
hoje recebida na escola, há a demanda óbvia, por um currículo que atenda a essa
universalidade.
cade a referencia amada?
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