Algumas considerações sobre a diversidade biológica ou biodiversidade
Do ponto de vista biológico, a variedade de seres vivos e ambientes em
conjunto é chamada de diversidade biológica ou biodiversidade. A natureza é
formada por vários tipos de ambientes e cada um deles é ocupado por uma
infinidade de seres vivos diferentes que se adaptam ao mesmo. Mesmo os animais
e plantas pertencentes à mesma espécie apresentam diferenças entre si. Os seres
humanos, enquanto seres vivos, apresentam diversidade biológica, ou seja,
mostram diferenças entre si. No entanto, ao longo do processo histórico e
cultural e no contexto das relações de poder estabelecidas entre os diferentes
grupos humanos, algumas dessas variabilidades do gênero humano receberam leituras
estereotipadas e preconceituosas, passaram a ser exploradas e tratadas de forma
desigual e discriminatória.
Ao refletirmos sobre a presença dos seres humanos no contexto da
diversidade biológica, devemos entender dois aspectos importantes:
a) o ser humano enquanto parte da
diversidade biológica não pode ser entendido fora do contexto da diversidade
cultural;
b) toda a discussão a que hoje assistimos
sobre a preservação, conservação e uso sustentável da biodiversidade não diz
respeito somente ao uso que o homem faz do ambiente externo, mas, sobretudo, da
relação deste como um dos componentes dessa diversidade. Ou seja, os problemas
ambientais não são considerados graves porque afetam o planeta, entendido como
algo externo, mas porque afetam a todos nós e colocam em risco a vida da
espécie humana e a das demais espécies.
Lamentavelmente, o avanço tecnológico do qual nos gabamos como seres
dotados de razão e capazes de transformar a natureza não tem significado avanço
para a própria biodiversidade da qual participamos.
Existem grupos humanos que, devido a sua história e cultura, garantem
sua sobrevivência e produzem conhecimentos por meio de uma relação mais direta
com o ambiente em que vivem. Entre eles podemos destacar os indígenas, as
comunidades tradicionais (como os seringueiros), os remanescentes de quilombos,
os trabalhadores do campo e demais povos da floresta. Estes constroem
conhecimentos variados a respeito dos recursos da biodiversidade que nem sempre
são considerados pela escola. Nos últimos anos, esses grupos vêm se organizando
cada vez mais e passam a exigir das escolas e dos órgãos responsáveis por elas
o direito ao reconhecimento dos seus saberes e sua incorporação aos currículos.
Além disso, passam a reivindicar dos governos o reconhecimento e posse das suas
terras, assim como a redistribuição e a ocupação responsável de terras
improdutivas.
A falta de controle e de conhecimento dos fatores de degradação
ambiental, dos desequilíbrios ecológicos de qualquer parte do sistema, da expansão
das monoculturas, a não efetivação de uma justa reforma agrária, entre outros
fatores, têm colaborado para a vulnerabilidade desses e outros grupos. Tal
situação afeta toda a espécie humana da qual fazemos parte. Coloca em risco a
capacidade de sustentabilidade proporcionada pela biodiversidade. Dessa forma,
os problemas ambientais, políticos, culturais e sociais estão intimamente
embricados.
A discussão acima suscita algumas reflexões:
- Que
indagações o debate sobre a diversidade biológica traz para os currículos?
- A
nossa abordagem em sala de aula e os nossos projetos pedagógicos sobre
educação ambiental têm explorado a complexidade e os conflitos trazidos
pela forma como a sociedade atual se relaciona com a diversidade
biológica?
- Como
incorporar a discussão sobre a biodiversidade nas propostas curriculares
das escolas e das redes de ensino?
- Um primeiro passo poderia ser a reflexão
sobre a nossa postura diante desse debate enquanto educadores e educadoras
e partícipes dessa mesma biodiversidade.
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