Philippe Perrenoud: Desenvolvimento de competências
Dez novas competências
para uma nova profissão
para uma nova profissão
Existe hoje um referencial que identifica
cerca de 50 competências cruciais na profissão de educador. Algumas delas são
novas ou adquiriram uma crescente importância nos dias de hoje em função das
transformações dos sistemas educativos, bem como da profissão e das condições
de trabalho dos professores.
A descrição de cada competência, diz , deve
partir da análise de situações específicas.
A abordagem por competência também é utilizada quando Perrenoud fixa objetivos na formação profissional. Ele relaciona o que é imprescindível saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível.
A abordagem por competência também é utilizada quando Perrenoud fixa objetivos na formação profissional. Ele relaciona o que é imprescindível saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível.
Essas
competências dividem-se em 10 grandes "famílias":
1)
Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2) Administrar a progressão das aprendizagens;
3) Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4) Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5) Trabalhar em equipe;
6) Participar da gestão escolar;
7) Informar e envolver os pais;
8) Utilizar novas tecnologias;
9) Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10) Administrar a própria formação contínua;
As dez competências não contemplam todas as relações que se estabelecem em sala de aula. Por isso, nunca deixe de lado sua sensibilidade e afetividade.
2) Administrar a progressão das aprendizagens;
3) Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4) Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5) Trabalhar em equipe;
6) Participar da gestão escolar;
7) Informar e envolver os pais;
8) Utilizar novas tecnologias;
9) Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10) Administrar a própria formação contínua;
As dez competências não contemplam todas as relações que se estabelecem em sala de aula. Por isso, nunca deixe de lado sua sensibilidade e afetividade.
É preciso reconhecer
que os professores não possuem apenas saberes, mas também competências
profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados, e
aceitar a idéia de que a evolução exige que todos os professores possuam
competências antes reservadas aos inovadores ou àqueles que precisavam lidar
com públicos difíceis.
Será que essas competências são
realmente "novas"? Elas definem a "nova profissão",
esboçada por Meirieu (1990) há mais de 10 anos? Representam uma ruptura ou são
"eternas" no seio da profissão de educador?
Em algumas profissões que dependem
totalmente das tecnologias, a renovação das competências é evidente. No
entanto, isto não acontece na educação escolar: nem o vídeo, nem o computador,
nem a multimídia, até hoje, fizeram com que a profissão de professor mudasse.
Desse ponto de vista, a aparente continuidade provoca a ruptura. Se surgissem
novas competências, não seria para responder a novas possibilidades técnicas,
mas devido à transformação da visão ou das condições de exercício da profissão.
As representações e as novas práticas
pedagógicas desenvolvem-se de forma progressiva. Em primeiro lugar, são
aplicadas em escolas e classes atípicas, muito antes de serem reconhecidas e
adotadas pela instituição e pela profissão, ainda que, em cada momento da
história de um sistema educativo, observe-se um amplo leque de práticas &
endash; e, portanto, de competências & endash; que vão das mais
tradicionais às mais inovadoras.
Desse modo, seria exagerado falar de
novas competências se isto sugerisse uma "mutação". Assistimos mais a
uma progressiva recomposição do leque de competências de que os professores
necessitam para exercer seu ofício de forma eficaz e equitativa. Algumas
formas de "dar aula" desaparecem lentamente, enquanto outras assumem
uma crescente importância. Algumas delas, que eram parte integrante da
profissão, agora pertencem à tradição, ao passo que outras, reservadas aos
militantes, integram-se pouco a pouco à identidade e aos recursos do professor
da base.
É
bastante difícil perceber a novidade, pois as palavras utilizadas para designar
as grandes famílias de competências criam uma impressão de familiaridade
e, por isso, diversos professores podem, com boa-fé, afirmar que essas
competências não lhes são estranhas, que já as possuem, embora nem sempre as
dominem bem nem as apliquem no dia-a-dia. Por exemplo, que professor
confessaria que não sabe organizar e estimular situações de aprendizagem?
Uma parte do sentimento de
familiaridade nasce do fato de que essas questões estão presentes no discurso
"moderno" que acompanha as reformas escolares ou que está enraizado
nos movimentos pedagógicos e nas ciências da educação. Assim, essas idéias
fazem parte da "paisagem pedagógica" e todos "vêem mais ou
menos" o que é evocado quando se fala de avaliação formativa, de contrato
didático, de pedagogia diferenciada.
Se levarmos a sério todas essas
competências, poderemos medir melhor o desvio existente entre o fato de saber
ministrar um curso frontal ou "lições" &endash; habilidade
pedagógica muito comum, porém bastante pobre &endash; e controlar uma ampla
gama de situações e procedimentos de aprendizagem, levando em conta a
diversidade dos aprendizes. Essas últimas práticas exigem competências muito
mais apuradas, provenientes tanto da didática quanto da gestão de classe.
Ante todas as listagens apresentadas
como definitivas e fechadas, o movimento espontâneo de um leitor é a resistência,
o questionamento da incrível pretensão do autor à exaustividade e ao
ordenamento. No entanto, essa resistência, salutar, deixa de lado o mecanismo
principal: pensar nas principais evoluções da profissão.
Paradoxalmente, embora seja
apresentado como uma ferramenta de análise, um referencial também cumpre
uma função de síntese. Considerado em seu conjunto, deixa entrever
uma profissão e talvez seu movimento histórico. É neste nível que se impõe
o debate.
Para entrar na matéria, parece-me
importante colocar e admitir duas considerações prévias, que serão examinadas a
seguir. É importante:
1.
reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas também
competências profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem
ensinados;
2.
aceitar a idéia de que a profissão muda e sua evolução exige atualmente que todos
os professores possuam novas competências, antes reservadas aos inovadores ou
aos professores que precisavam lidar com os públicos mais difíceis.
Ninguém duvida de que os professores têm
saberes. Será que também têm competências? É claro que tudo depende da
definição que damos a esse conceito. Se entendermos por competência a
capacidade de agir de uma forma relativamente eficaz em uma família de
situações, sem dúvida aceitaremos que os professores possuem competências,
mas acrescentaríamos com um pouco de desdém: acalmar a classe, estabelecer uma
certa ordem, corrigir provas, dar uma orientação, ajudar um aluno em
dificuldade, fazer com que os alunos trabalhem em grupos, explicar de novo uma
noção mal compreendida, planejar um curso, dialogar com os pais dos alunos,
mobilizá-los em torno de um projeto ou de um enigma, sancionar na medida
adequada, conservar o sangue frio...
Sem dúvida, essas diversas
habilidades parecem necessárias, mas numerosos professores consideram-nas pouco
"nobres" em função dos saberes disciplinares. Quanto mais avançamos
no ensino médio e superior, mais o saber a ser ensinado passa a
constituir o cerne da identidade do educador, mais os professores subestimam o
saber para ensinar, reduzindo-o a uma mescla de bom senso, coerência,
arte de se comunicar claramente. Por isso, as habilidades são mais reconhecidas
se concebidas como a aplicação de saberes metodológicos, baseados nos
saberes teóricos, como a didática das disciplinas ou a psicologia cognitiva.
Esses saberes procedimentais não têm o prestígio das ciências ou da história,
porém são saberes menos "vulgares" que as habilidades.
Se nos situarmos em outra
perspectiva, a das habilidades sem nome nem bases teóricas bem identificadas,
entramos no domínio dos "ossos do ofício". Ora, o que caracteriza a
profissão de professor é que se fala muito pouco das maneiras de fazer, do savoir-
faire, das habilidades construídas no decorrer da experiência; enquanto
isso, em outras profissões, sua diversidade e pertinência provocam a admiração
dos colegas. Poderíamos dizer, exagerando um pouco, que os professores têm
vergonha das habilidades.
Poderíamos dar um status mais
invejável a essas habilidades práticas se as tratássemos como
"competências"? Para isso, o corpo docente deveria ter uma visão
positiva da noção de "competência". Isto não é evidente, já que no
mundo escolar muitas vezes a idéia de competências é associada à tradição utilitarista
(saber fazer seu imposto de renda, ler um manual ou trocar um pneu) ou à característica
neoliberal do mundo do trabalho.
A emergência da noção de competência
no mundo das empresas está ligada, em parte, ao movimento rumo à
flexibilização, à precariedade do trabalho e ao enfraquecimento das escalas de
qualificação e, conseqüentemente, das solidariedades estatutárias. O mundo do
ensino desconfia do "enfoque por competências", suspeitando, assim,
que a escola está a serviço da economia em detrimento da cultura.
Uma
parte do corpo docente resiste de uma maneira ainda mais viva e negativa a
esses enfoques, pois agora precisa lidar diretamente com eles. Com
efeito, os sistemas educativos visam ao mesmo tempo:
- explicitar
e avaliar de forma mais precisa as competências propriamente profissionais
dos professores (para além de sua cultura teórica);
- reformular
os programas escolares no sentido de referenciais de competências
(Perrenoud, 1999c).
Assim, a denúncia da moda das
competências parece uma luta simultânea contra a racionalização da profissão e
a asfixia dos saberes e da cultura. Se a noção de competências parece-lhes
empresarial, tecnocrática, utilitarista, se parece-lhes contrária ao humanismo
e ao conhecimento, como é que os professores poderiam reconhecer que exercem
numerosas competências para realizar seu trabalho, para fazer aprender ou
simplesmente permitir a coexistência e a cooperação em uma classe e em uma
instituição?
Felizmente, quando os professores têm
formação universitária, mesmo se ela for muito acadêmica, são capazes de
aprender a partir da experiência, de refletir e de forjar na prática as
competências sem as quais não poderiam sobreviver em uma sala de aula. Embora
não garanta uma prática reflexiva, um elevado nível de formação predispõe a
ela. O problema é que cada um aprende por si mesmo, sem imaginar que muitas
vezes chega, por meio de caminhos incertos e difíceis, às aquisições das
ciências sociais e humanas e às habilidades dos pedagogos.
Portanto, devemos enfrentar e
analisar a realidade do trabalho educador (Tardif e Lessard, 1999),
proceder a uma transposição didática a partir das práticas reais,
reequilibrar nesse sentido os programas de formação dos professores, articular
as competências identificadas com uma verdadeira cultura básica nas ciências da
educação e desenvolvê-las em função de um procedimento clínico e reflexivo de
formação em alternância.
Ao nos preocuparmos com as
competências, estaremos, acima de tudo, lutando por uma formação profissional
dos professores baseada na realidade das práticas. Contudo, isto também
significa ter meios para fazer a profissão evoluir por meio do desenvolvimento
de novas competências.
Na
análise dos motivos para lutar pela profissionalização da profissão de
professor, deparamo-nos com dois tipos de fatores: por um lado, transformações
das condições de exercício da profissão e, por outro, crescentes ambições dos
sistemas educativos. O ensino nunca foi uma profissão tranqüila. Sempre teve de
confrontar o outro, sua resistência, sua opacidade, suas ambivalências.
Entretanto, devido às suas múltiplas transformações, parece cada vez mais
difícil ensinar e, sobretudo, fazer aprender.
Ao
mesmo tempo, o nível de conhecimento e de competência das novas gerações
torna-se um mecanismo político e econômico da maior importância. Mecanismo
econômico porque o "capital humano" continua sendo um trunfo decisivo
para o desenvolvimento e a sobrevivência na concorrência internacional. E
também um mecanismo político porque, embora sem garantir a generosidade e o
altruísmo, e menos ainda a liberdade, a igualdade e a fraternidade, a instrução
é uma condição necessária da democracia e da capacidade de construir uma
ordem negociada, de não aumentar a violência ou o fanatismo quando a sociedade
é rompida por crises.
Logo,
espera-se uma maior eficácia dos sistemas educativos, ao mesmo tempo em
que os orçamentos diminuem e as condições de trabalho e os públicos tornam-se
mais difíceis. A escola não tem mais direito ao fracasso, não pode mais
rejeitar os que "não querem trabalhar". Não é mais suficiente fazer
progredir os que trabalham e compreendem de forma espontânea o sentido desse investimento;
é preciso aderir à causa da instrução dos alunos para os quais "a vida
está em outro lugar".
Por
isso, as novas competências exigidas estão relacionadas tanto a didáticas
pontuais, baseadas nas ciências cognitivas, quanto a enfoques transversais que
aliam a psicanálise e a sociologia, que visam a criar ou a manter &endash;
e, portanto, a explicar e a compreender &endash; o desejo de aprender, o
sentido dos saberes, o envolvimento do sujeito na relação pedagógica e a
construção de um projeto.
Não
podemos dissociar as competências da relação com a profissão. Para formar
professores mais competentes, aliando uma postura reflexiva e uma forte
implicação crítica para o desenvolvimento da sociedade, é necessário desenvolver
a profissionalização do professor.
A
palavra está na moda, mas a idéia assusta. Provavelmente, todos desejariam
beneficiar-se com o nível de especialização que é associado a uma profissão, ao
prestígio, ao poder e a uma boa remuneração. No entanto, os atores hesitam em
assumir a parcela de autonomia e responsabilidade que está ligada ao
exercício de uma profissão. As autoridades querem conservar seu controle sobre
os professores e os estabelecimentos. Por outro lado, estes últimos não desejam
prestar contas.
Daí
a importância, para gerar a transição, de uma décima primeira família de
competências, da qual dependerão a outras. Essas competências não se
relacionam ao trabalho com os alunos, mas à capacidade de os professores agirem
como um ator coletivo no sistema e de direcionar o movimento rumo à
profissionalização e à prática reflexiva, assim como para o domínio das
inovações.
Isto
está relacionado à evolução do sindicalismo, aos projetos de estabelecimento e
à participação dos professores na elaboração das reformas escolares, desde que
seja negociado. Significa que a profissionalização exige uma vontade comum dos
professores, dos diretores e dos políticos.
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