AVAliAÇÃO
1 .
INTRODUÇÃO
A avaliação, tal como concebida e vivenciada na maioria das escolas
brasileiras, tem se constituído no principal mecanismo de sustentação da lógica
de organização do trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso,
ocupando mesmo o papel central nas relações que estabelecem entre si os
profissionais da educação, alunos e pais.
Os métodos de avaliação ocupam, sem duvida espaço relevante no conjunto
das práticas pedagógicas aplicadas ao processo de ensino e aprendizagem.
Avaliar, neste contexto, não se resume à mecânica do conceito formal e
estatístico; não é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de
avanço ou retenção em determinadas disciplinas.
Para Oliveira (2003), devem representar as avaliações aqueles
instrumentos imprescindíveis à verificação do aprendizado efetivamente
realizado pelo aluno, ao mesmo tempo que forneçam subsídios ao trabalho
docente, direcionando o esforço empreendido no processo de ensino e
aprendizagem de forma a contemplar a melhor abordagem pedagógica e o mais pertinente
método didático adequado à disciplina – mas não somente -, à medida que
consideram, igualmente, o contexto sócio-político no qual o grupo está inserido
e as condições individuais do aluno, sempre que possível.
A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de decisão e a melhoria
da qualidade de ensino, informando as ações em desenvolvimento e a necessidade
de regulações constantes.
2. ORIGEM DA
AVALIAÇÃO
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor e mérito
ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um juízo de valor sobre a
propriedade de um processo para a aferição da qualidade do seu resultado, porém,
a compreensão do processo de avaliação do processo ensino/aprendizagem tem sido
pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato de avaliar ao de
“medir” os conhecimentos adquiridos pelos alunos.
Avaliação tem sido estudada desde
o início do século XX, porém, segundo Caro apud Goldberg & Souza (1982),
desde 1897 existem registros dos relatos de J. M. Rice sobre uma pesquisa
avaliativa utilizada para estabelecer a relação entre o tempo de treinamento e
o rendimento em ortografia, revelando que uma grande ênfase em exercícios não
levava necessariamente a um melhor rendimento.
As duas primeiras décadas deste século, de acordo com Borba & Ferri
(1997), foram marcadas pelo desenvolvimento de testes padronizados para medir
as habilidades e aptidões dos alunos e influenciados, principalmente nos
Estados Unidos, pelos estudos de Robert Thorndike.
Nessa época, as pesquisas avaliativas voltavam-se particularmente para a
mensuração de mudanças do comportamento humano. Caro apud Goldberg & Souza
(1982) aponta várias destas pesquisas realizadas nos anos 20 para medir efeitos
de programas de diversas áreas sobre o comportamento das pessoas.
Eram realizados experimentos relativos à
produtividade e à moral dos operários, à eficácia de programas de saúde
pública, à influência de programas experimentais universitários sobre a
personalidade e atitudes dos alunos, etc.
A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e características no
campo da Psicologia, sendo que as duas primeiras décadas do século XX foram
marcadas pelo desenvolvimento de testes padronizados para medir as habilidades
e aptidões dos alunos.
A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos meios que
emprega, formativa na intenção que lhe preside e independente face à
classificação. De âmbito mais vasto e conteúdo mais rico, a avaliação constitui
uma operação indispensável em qualquer sistema escolar.
Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem, um caminho a seguir
entre um ponto de partida e um ponto de chegada, naturalmente que é necessário
verificar se o trajeto está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por
não saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio errado.
É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada um dos seus
membros, que a avaliação tenta recolher e que é necessária a professores e
alunos.
A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou aptidões que os
alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do ensino já atingiram num
determinado ponto de percurso e que dificuldades estão a revelar relativamente
a outros.
Esta informação é necessária ao professor para procurar meios e
estratégias que possam ajudar os alunos a resolver essas dificuldades e é
necessária aos alunos para se aperceberem delas (não podem os alunos
identificar claramente as suas próprias dificuldades num campo que desconhecem)
e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do professor e com o próprio esforço. Por
isso, a avaliação tem uma intenção formativa.
A avaliação proporciona também o apoio a um processo a decorrer,
contribuindo para a obtenção de produtos ou resultados de aprendizagem.
As avaliações a que o professor procede enquadram-se em três grandes
tipos: avaliação diagnostica, formativa e somativa.
3 – EVOLUÇÃO
DA AVALIAÇÃO
A partir do início do século XX, a avaliação vem atravessando pelo menos
quatro gerações, conforme Guba e Lincoln, apud Firme (1994). São elas: mensuração,
descritiva, julgamento e negociação.
3.1 –
Mensuração – não distinguia avaliação e medida. Nessa fase, era preocupação dos
estudiosos a elaboração de instrumentos ou testes para verificação do
rendimento escolar. O papel do avaliador era, então, eminentemente técnico e,
neste sentido, testes e exames eram indispensáveis na classificação de alunos
para se determinar seu progresso.
3.2 –
Descritiva – essa geração surgiu em busca de melhor entendimento do objetivo da
avaliação. Conforme os estudiosos, a geração anterior só oferecia informações
sobre o aluno. Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos por parte
dos alunos envolvidos nos programas escolares, sendo necessário descrever o que
seria sucesso ou dificuldade com relação aos objetivos estabelecidos. Neste
sentido o avaliador estava muito mais concentrado em descrever padrões e
critérios. Foi nessa fase que surgiu o termo “avaliação educacional”.
3.3 –
Julgamento – a terceira geração questionava os testes padronizados e o
reducionismo da noção simplista de avaliação como sinônimo de medida; tinha
como preocupação maior o julgamento. Neste sentido, o avaliador assumiria o
papel de juiz, incorporando, contudo, o que se havia preservado de fundamental
das gerações anteriores, em termos de mensuração e descrição. Assim, o
julgamento passou a ser elemento crucial do processo avaliativo, pois não só
importava medir e descrever, era preciso julgar sobre o conjunto de todas as
dimensões do objeto, inclusive sobre os próprios objetivos.
3.4 –
Negociação – nesta geração, a avaliação é um processo interativo, negociado,
que se fundamenta num paradigma construtivista. Para Guba e Lincoln apud Firme
(1994) é uma forma responsiva de enfocar e um modo construtivista de fazer.
A avaliação é responsiva porque,
diferentemente das alternativas anteriores que partem inicialmente de
variáveis, objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e desenvolve a
partir de preocupações, proposições ou controvérsias em relação ao objetivo da
avaliação, seja ele um programa, projeto, curso ou outro foco de atenção. Ela é
construtivista em substituição ao modelo científico, que tem caracterizado, de
um modo geral, as avaliações mais prestigiadas neste século.
Neste sentido, Souza (1993) diz que a finalidade da avaliação, de acordo
com a quarta geração, é fornecer, sobre o processo pedagógico, informações que
permitam aos agentes escolares decidir sobre as intervenções e
redirecionamentos que se fizerem necessários em face do projeto educativo, definido
coletivamente, e comprometido com a garantia da aprendizagem do aluno.
Converte-se, então, em um instrumento referencial e de apoio às definições de
natureza pedagógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por meio de
relações partilhadas e cooperativas.
4 – FUNÇÕES
DO PROCESSO AVALIATIVO
As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verificação e de
apreciação.
4.1 – Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acordo com Miras e Solé (1996, p. 381), contemplada pela avaliação diagnóstica (ou inicial), é a que proporciona informações acerca das capacidades do aluno antes de iniciar um processo de ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975), busca a determinação da presença ou ausência de habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das causas de repetidas dificuldades na aprendizagem.
4.1 – Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acordo com Miras e Solé (1996, p. 381), contemplada pela avaliação diagnóstica (ou inicial), é a que proporciona informações acerca das capacidades do aluno antes de iniciar um processo de ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975), busca a determinação da presença ou ausência de habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das causas de repetidas dificuldades na aprendizagem.
A avaliação diagnóstica pretende
averiguar a posição do aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser
propostas e a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no sentido
de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, de resolver situações
presentes.
4.2 – Função
formativa -
A segunda função á a avaliação formativa que, conforme Haydt (1995, p.
17), permite constatar se os alunos estão, de fato, atingindo os objetivos
pretendidos, verificando a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados
efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das atividades propostas.
Representa o principal meio através do
qual o estudante passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo
para um estudo sistemático dos conteúdos.
Outro aspecto destacado pela autora é o
da orientação fornecida por este tipo de avaliação, tanto ao estudo do aluno
como ao trabalho do professor, principalmente através de mecanismos de
feedback.
Estes mecanismos permitem que o professor detecte e identifique
deficiências na forma de ensinar, possibilitando reformulações no seu trabalho
didático, visando aperfeiçoa-lo.
Para Bloom, Hastings e Madaus (1975), a avaliação formativa visa
informar o professor e o aluno sobre o rendimento da aprendizagem no decorrer
das atividades escolares e a localização das deficiências na organização do
ensino para possibilitar correção e recuperação.
A avaliação formativa pretende determinar a posição do aluno ao longo de
uma unidade de ensino, no sentido de identificar dificuldades e de lhes dar
solução.
4.3 – Função somativa – Tem como objetivo,
segundo Miras e Solé (1996, p. 378) determinar o grau de domínio do aluno em
uma área de aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que, por sua
vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade da aprendizagem
realizada.
Pode ser chamada também de função
creditativa. Também tem o propósito de classificar os alunos ao final de um
período de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento.
A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso realizado pelo aluno
no final de uma unidade de aprendizagem, no sentido de aferir resultados já
colhidos por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que permitem
aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a um balanço final, a uma visão
de conjunto relativamente a um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos
juízos parcelares.
5 – OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO
5 – OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO
Na visão de Miras e Solé (1996, p. 375), os objetivos da avaliação são
traçados em torno de duas possibilidades: emissão de “um juízo sobre uma
pessoa, um fenômeno, uma situação ou um objeto, em função de distintos
critérios”, e “obtenção de informações úteis para tomar alguma decisão”.
Para Nérici (1977), a avaliação é uma
etapa de um procedimento maior que incluiria uma verificação prévia. A
avaliação, para este autor, é o processo de ajuizamento, apreciação, julgamento
ou valorização do que o educando revelou ter aprendido durante um período de
estudo ou de desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.
Segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975),
a avaliação pode ser considerada como um método de adquirir e processar
evidências necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem, incluindo uma
grande variedade de evidências que vão além do exame usual de ‘papel e lápis’.
É ainda um auxílio para classificar os objetivos significativos e as
metas educacionais, um processo para determinar em que medida os alunos estão
se desenvolvendo dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade, pelo
qual pode ser determinada etapa por etapa do processo ensino/aprendizagem, a
efetividade ou não do processo e, em caso negativo, que mudança devem ser
feitas para garantir sua efetividade.
6 – MODELO TRADICIONAL DE AVALIAÇÃO VERSUS MODELO MAIS ADEQUADO
Gadotti (1990) diz que a avaliação é essencial à educação, inerente e
indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento,
reflexão, sobre a ação.
Entende-se que a avaliação não pode morrer. Ela se faz necessária para
que possamos refletir, questionar e transformar nossas ações.
O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada histórica, sendo que
seus fantasmas ainda se apresentam como forma de controle e de autoritarismo
por diversas gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o
mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica de auxiliar e melhorar o
ensino/aprendizagem.
A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002), é crucial para a
concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos alunos o que o
professor e a escola valorizam. O autor, na tabela 1, traça uma comparação
entre a concepção tradicional de avaliação com uma mais adequada a objetivos
contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua adoção.
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