Dicas para dominar as modernas práticas pedagógicas
1.
Conhecimento prévio e interesse dos alunos: quem
descobre é você
Os conteúdos abordados em sala de aula devem,
basicamente, contribuir para a formação de cidadãos conscientes, informados e
capazes de melhorar a sociedade. Por isso, é muito comum os professores
tentarem montar suas aulas tendo como centro do trabalho o interesse dos
alunos. Dessa maneira, eles teriam mais elementos para refletir sobre o meio em
que vivem e sobre o que os cerca. Essa prática, porém, nem sempre garante bons
resultados. "Ocorre até o contrário. Ao dar importância somente ao que os
estudantes já conhecem, muitas vezes os professores acabam caindo na
superficialidade, presos a interesses imediatos", alerta Danilo Gandin.
Segundo ele, como conseqüência, surge um currículo ditado pelas circunstâncias,
que destaca acontecimentos pontuais e não um roteiro de trabalho construído com
base na relação entre a proposta pedagógica e a realidade. "Essa questão
só se resolve quando a equipe de cada escola define os grandes horizontes
políticos e pedagógicos de seu trabalho e, confrontando esses grandes ideais
com a realidade e com a prática, descobre as necessidades de seus alunos",
conclui.
2. Trabalho
Interdisciplinar: as matérias se unem e os alunos aprendem
A interdisciplinaridade ocorre quando, ao tratar de
um assunto dentro de uma disciplina, você lança mão dos conhecimentos de outra.
Ao estudar a velocidade e as condições de multiplicação de um vírus, por
exemplo, é possível falar de uma epidemia ocorrida no passado devido às
precárias condições de saúde e higiene e à pobreza do local. Daí, é possível até
explorar, em outros momentos, os aspectos políticos e econômicos que geraram
tamanha pobreza. A interdisciplinaridade é, portanto, a articulação que existe
entre as disciplinas para que o conhecimento do aluno seja global, e não
fragmentado. É muito comum a idéia de que, ao utilizar um tema gerador, se
garante a interdisciplinaridade. "Ela não se resume em escolher um tema e
abordá-lo segundo a visão de duas ou mais disciplinas", afirma Ruy Berger.
Ao estudar a questão dos índios, por exemplo, o professor de História fala
sobre a colonização do Brasil, o de Língua Portuguesa trabalha as lendas
indígenas e o de Matemática acaba propondo um problema sobre o índio: isso não
garante a relação entre as disciplinas. O tema gerador pode ser um ponto de
partida, mas não o centro do estudo e nem se alongar muito, para os alunos não
se cansarem. Ao planejar, portanto, é importante levantar quais são as
possibilidades de trabalhar de forma interdisciplinar ao longo do ano. Essas
oportunidades podem ser criadas com base nas pesquisas dos alunos e do próprio
professor ou em parceria com os colegas de outras disciplinas.
3. Sequência
didática: uma série de aulas que desafia e ensina os alunos
A seqüência didática é um conjunto de aulas
planejadas para ensinar um determinado conteúdo sem ter um produto final. Sua
duração varia de dias a semanas e você pode elaborar várias seqüências ao longo
do ano, de acordo com o planejado ou com a necessidade dos alunos detectada
pelo caminho. É possível, inclusive, aplicar essa modalidade ao mesmo tempo em
disciplinas diferentes. "O princípio da seqüência didática é dar ao aluno
desafios cada vez maiores para que ele se desenvolva", afirma Regina
Scarpa, coordenadora pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação
Comunitária (Cedac) e do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. Por exemplo: você
quer que seus alunos aprendam o uso do "r" e do "rr".
Primeiro observa o que eles já sabem a respeito e depois elabora uma série de
aulas com várias atividades, jogos, questionamentos e muita reflexão,
aumentando gradativamente a complexidade dos desafios propostos. Com esse tipo
de abordagem, os alunos vão, aos poucos, percebendo que não existem palavras
que começam com "rr" ou que não se usa "rr" após o
"s", por exemplo. A seqüência didática é indicada, ainda, quando se
quer trabalhar o universo de um determinado autor. "Além de ler suas
obras, as crianças verão nessas aulas o que o autor escreve, que livros já
publicou e qual o seu estilo", diz Regina. Se a idéia é trabalhar as diferentes
versões da história do Pinóquio, outra seqüência pode ser estabelecida: leitura
feita pelo professor do original e de uma segunda versão, leitura e reescrita
em grupos de trechos de outras versões e a exibição de um filme sobre o
personagem. Trabalhando dessa forma, os conteúdos se distribuem de maneira
intencional e mais consistente.
4. Temas
transversais: o pano de fundo do trabalho da escola
Temas transversais não são disciplinas, apenas
permeiam todas elas. Se a escola decide abordar ética de maneira transversal,
não pode estipular uma aula sobre o assunto uma vez por semana e esquecer dela
no restante dos dias. "Esses temas precisam estar presentes em todas as
disciplinas, o tempo todo, como pano de fundo do trabalho da escola",
orienta Josca Baroukh, selecionadora do Prêmio Victor Civita. Segundo Josca, ao
abordar os temas transversais, o professor leva os alunos a refletir para que
eles tenham condições de construir conceitos, em vez de apenas coletar
informações a respeito. "Caso contrário, é possível que os estudantes
organizem uma coleta seletiva no bairro ou arrecadem alimentos para um asilo
sem pensar no porquê de fazer aquilo", afirma. Se a escola propõe à
garotada, por exemplo, mobilizar a população e a prefeitura da cidade para
fazer um poço artesiano em benefício de uma comunidade que vive na seca, é
preciso, antes da ação, uma reflexão profunda. O que é a seca? Que problemas
ela traz? Um poço é a melhor solução para o momento? Há outras formas de
contribuir? E, principalmente, por que devemos contribuir? Para Josca, não é
apenas o conteúdo escolar que dá gancho a esse tipo de trabalho. "Uma
notícia de jornal e até um conflito em sala de aula podem ser mote para
reflexão. É um trabalho contínuo, que nem sempre depende do planejamento das aulas."
5. Tempo
didático: para não errar na dose, é preciso ter objetivos claros
Muitas vezes é difícil definir quanto tempo será
gasto para desenvolver um tema, uma atividade ou um projeto. Para não errar na
medida, é fundamental ter em mente três pontos: o que você quer ensinar, como
cada um de seus alunos aprende e como você irá acompanhar e avaliar o trabalho
da garotada. "Se o tempo previsto der errado, é porque pelo menos um
desses três itens não foi observado", afirma Regina Scarpa. Na prática, isso
significa que você deve estabelecer, primeiramente, os objetivos e os conteúdos
(seja para uma aula ou para um projeto mais longo). Depois, pensar nas
atividades a ser desenvolvidas, baseando-se na maneira como seus alunos
aprendem. Então, considerar que é preciso tempo para avaliar, constantemente, a
produção da garotada e, dessa forma, saber se será necessário estender a
abordagem de um ou outro conteúdo, sobre o qual as crianças apresentaram
dificuldades. "É possível prever o tempo de um projeto, apesar dessas variações
no meio do caminho", diz Regina. Por isso, é importante planejar o
encerramento com certa antecedência em relação ao fim do bimestre ou do
semestre. Se algum aluno não aprender, haverá uma folga. "Não faz sentido
o professor fazer a revisão dos textos ou ilustrar um trabalho no lugar dos
alunos porque o tempo acabou e é hora de concluir o projeto", diz Regina.
6. Inclusão: a
escola leva o aluno com deficiência a avançar
Receber uma criança com deficiência não deve ser
motivo de angústia. Cada vez mais a inclusão escolar tem sido discutida no meio
educacional, e os professores hoje conseguem encontrar, em parceria com os
pais, a coordenação da escola e os especialistas nas deficiências, caminhos
seguros para trabalhar. "A escola serve para ampliar os conhecimentos dos
estudantes. Por isso, o primeiro passo é procurar saber o que o aluno com
deficiência já sabe e quais são as possibilidades que ele tem de aumentar esses
conhecimentos", ressalta Maria Teresa Eglér Mantoan, da Universidade
Estadual de Campinas. Procure descobrir como tem sido a experiência da criança,
pesquisando seu histórico escolar e trocando informações com os pais e os
professores das séries anteriores. Se ela estiver recebendo atendimento
educacional especializado no contraturno em alguma instituição, é importante
conversar com os especialistas ao longo de todo o ano para acompanhar seu
desenvolvimento. Isso pode ajudar muito a planejar as aulas, definir
estratégias e escolher os melhores materiais o que é bom não só para o aluno com
deficiência mas para a turma toda. Se sua escola já oferece esse atendimento, a
parceria com o professor especialista se dará de maneira ainda mais efetiva,
pois o contato é diário. No caso de haver uma criança cega, esse profissional
pode, por exemplo, ajudar você a elaborar materiais concretos para ensinar um
conteúdo de Matemática (como figuras geométricas feitas em relevo, com tinta
plástica ou sementes coladas no papel). "O professor deve receber essa
criança como ele recebe todas as outras. Ela é, acima de tudo, um
aprendiz", afirma Maria Teresa.
7. Matemática:
interação entre os conteúdos é essencial
O melhor caminho para garantir o aprendizado da
turma é relacionar os conteúdos matemáticos e mostrar como eles se
complementam. Isso é o que dá significado ao estudo. Geralmente, os tópicos
aparecem de forma fragmentada, como se não tivessem nenhuma ligação entre si.
Na prática, é como ensinar multiplicação com o objetivo de fazer o aluno
calcular mais rapidamente e de cabeça, sem fazer nenhuma relação com situações
em que a operação é necessária. "O professor deve organizar os temas de
forma que possam ser vistos como uma rede de significados", aponta Maria
Sueli Cardoso, selecionadora do Prêmio Victor Civita. Por exemplo: em vez de pedir
à turma apenas para calcular quanto é 2 x 4, é possível pedir para desenhar em
um papel quadriculado duas colunas com quatro linhas. Assim todos perceberão
que 2 x 4 é igual a 8 quadradinhos. Esse resultado significa também a área de
um retângulo (com 2 unidades de altura e 4 de comprimento). Nesse tipo de
atividade, estão relacionados multiplicação, figura geométrica e perímetro.
"É sempre interessante que o aluno compreenda que um mesmo assunto pode
ser estudado sob vários aspectos", diz Sueli.
8. Língua
Portuguesa (1ªa 4ª): mais importância para a oralidade
Atividades de leitura e escrita aparecem muito nas
primeiras séries do Ensino Fundamental. Mas e a oralidade, onde fica? Para
Eliane Mingues, selecionadora do Prêmio Victor Civita, é importante criar
situações em que as crianças utilizem as três práticas. Elas podem elaborar uma
coletânea de contos ou poemas; um livro de receitas; ou o encarte de um CD com
as canções preferidas da turma. Para fazer a coletânea de poemas, por exemplo,
a garotada tem que ler, selecionar, recitar e escrever as poesias. Essas
situações ensinam a leitura e a escrita e também a oralidade, o que será útil
para a vida dentro e fora da escola. "Alunos que não vivem situações de
fala formal em sala de aula podem demorar mais para construir esse
conhecimento", afirma. Surge, assim, a dificuldade em se expressar,
elaborar apresentações e criar argumentos sobre o que pensam. O mesmo vale para
a dificuldade em anotar, pesquisar e resumir. "Quando as crianças já estão
alfabetizadas, pode-se focar em atividades que dão mais autonomia em relação à
leitura e à escrita, como a entrevista", sugere Eliane. A atividade
proporciona uma situação comunicativa em que os alunos precisam escrever um
texto de gênero específico para leitores reais e que será publicado no mural ou
boletim da escola.
9. Língua
Portuguesa (5ªa 8ª): gramática como uma ferramenta
É importante não separar o estudo das regras da
língua da leitura e produção escrita. "A reflexão sobre os mecanismos da
língua produz um aprendizado mais consistente quando é feita misturada ao ler e
escrever", afirma o selecionador do Prêmio Victor Civita Ricardo Barreto.
Para envolver a garotada no ensino da gramática, um bom caminho é associá-la a
situações concretas. Transformar um texto formal em coloquial, comparando as
palavras e as estruturas que foram alteradas, é um bom exercício. Escrever uma
reclamação a uma autoridade e, em seguida, contar o fato a um amigo, também por
carta, é outra opção. "A idéia é levar o aluno a perceber as
possibilidades da língua sem ter de decorar regras", diz Barreto. Ele
destaca mais uma estratégia: fazer os estudantes pesquisarem as diferenças
entre textos de diversos gêneros, como o de divulgação científica, a crônica e
a notícia. Durante a leitura, eles acabarão comparando os elementos gramaticais
utilizados em cada um. "Por fim, o professor pode solicitar ao aluno que
escreva sobre o que aprendeu. Essa prática também estimula a reflexão sobre a
língua."
10. Língua
Estrangeira: as palavras precisam de contexto
Ninguém esquece sua língua materna quando aprende
uma língua estrangeira. O que acontece é bem o contrário: quanto mais o aluno
utiliza o conhecimento que adquiriu em sua vivência e sobre o próprio idioma,
melhor entende uma segunda língua. Por exemplo: certa vez uma empresa lançou
uma campanha publicitária com o slogan Put a tiger in your tank. "Para
entender a mensagem, não basta saber o significado de cada palavra. É preciso
conhecer uma série de elementos prévios", afirma a selecionadora do Prêmio
Victor Civita Celina Bruniera. "Ajuda, por exemplo, conhecer as
características do texto publicitário e saber que o tigre representa força e
agilidade e que é o símbolo de uma distribuidora de combustível." Outro
exemplo: lendo a palavra engaged isolada, o aluno terá mais dificuldade de
entender seu sentido do que se vê-la na fechadura da porta de um banheiro
público. "Se disserem a ele que, ao girar a fechadura, a palavra
desaparece e, em seu lugar, surge vacant, será mais fácil concluir que vacant
significa vago e engaged ocupado." Celina ressalta, no entanto, que, ao
tentar tornar o ensino interessante, muitos professores se esquecem dos gêneros
textuais e abusam de atividades lúdicas sem contextualização. Disso surgem
palavras cruzadas e joguinhos que só ajudam a decorar palavras.
11. História:
de olho no presente para transformar o futuro
Estudar história local com a turma é uma prática
muito comum e pode ser uma experiência importante e enriquecedora desde que o
resultado não se torne uma mera coletânea de curiosidades, hábitos e causos
sobre o lugar e seus moradores. Por isso, ao pensar nos conteúdos que serão
abordados durante o ano, é preciso levar em conta as respostas para algumas
perguntas que você deve fazer a si mesmo: posso com isso contribuir para transformar
minha região? Em que esse assunto ajudará meu aluno em sua vida diária e no seu
processo de formação como cidadão? Como fazer com que ele tenha uma
aprendizagem significativa? "Em cada contexto social, político e
geográfico as respostas são diferentes. Portanto, só o professor tem reais
condições de respondê-las e de formular as melhores propostas didáticas",
diz o selecionador do Prêmio Victor Civita Daniel Helene. "O importante é
levar os alunos a enxergar a realidade com um olhar crítico." No norte do
Maranhão, por exemplo, algumas empresas usam mão-de-obra infantil. Por que não
estudar a história local para compreender essa problemática? Em alguns
municípios de Rondônia, na fronteira com a Bolívia, muitos estudantes
discriminam os colegas vindos do país vizinho. Estudar a formação dessas
cidades é um caminho para combater o preconceito. Ações como essas, baseadas em
problemas que exigem solução imediata, tornam o ensino de História dinâmico.
12.Geografia:
ela não está só nos mapas mas também no cotidiano
Para que essa disciplina faça sentido desde a
Educação Infantil, uma boa seqüência de conteúdos é fundamental. Caso
contrário, conceitos como ordem, hierarquia e proporção — importantes para a
área — não serão assimilados pelas crianças. Segundo Sueli Furlan,
selecionadora do Prêmio Victor Civita, as primeiras noções de Geografia são
adquiridas ainda na pré-escola. Para que a criança aprenda cartografia, por
exemplo, deve-se partir do conhecimento prévio que cada uma delas possui.
"Para calcular uma distância, os alunos podem usar objetos de diferentes
tamanhos, passadas, o palmo ou um barbante", exemplifica. Dessa forma, ao
chegar à 1ª série, eles já adquiriram conhecimento sobre espacialidade e
hierarquia. Daí em diante, brincadeiras e jogos ajudam. No futebol, conhecer as
posições dos jogadores faz a turma assimilar noções de perto, longe, ao lado,
fora, dentro e lateral direita e esquerda. De 5ª a 8ª série, é hora de usar os
mapas como fonte de informação para o estudo do mundo em que vivemos. Os alunos
devem estudar como se produz a cartografia, quais são suas fontes de informação
e qual o papel das cores, dos números e dos símbolos nos mapas.
13.Educação
Infantil: o segredo é a autoconfiança do professor
Ouve-se muito que o professor de creche e de pré-escola
não pode ser autoritário e que deve se basear no interesse da turma. Mas o
verdadeiro responsável pela definição dos temas e das atividades a ser
desenvolvidas é ele mesmo. Deixar a cargo dos alunos essa escolha não é
sinônimo de liberdade nem demonstra uma postura pedagógica avançada. "O
professor precisa conhecer o modo como as crianças aprendem e como se
desenvolvem e levar isso em conta na hora de planejar cada aula", afirma a
selecionadora do Prêmio Victor Civita Regina Gomes Sodré. Segundo ela, deve-se
compartilhar com as crianças algumas etapas do trabalho — pois isso também
ensina a estudar e a planejar —, mas sem deixar que elas tomem todas as
decisões. Na construção de uma maquete, por exemplo, vale uma conversa com os
alunos sobre o material a ser utilizado e sobre o que será representado, além
de fazer com eles um cronograma, que será utilizado ao longo do trabalho. Esta
é a melhor maneira de envolver as crianças e garantir o interesse pela aula:
escolher temas adequados à faixa etária, que sejam relevantes do ponto de vista
cultural, estejam relacionados ao local em que a escola está inserida e sejam
propostos de forma instigante.
14.Educação
Física: o programa vai além do conteúdo esportivo
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
as aulas de Educação Física devem trazer discussões sobre assuntos como ética,
cidadania, respeito às diferenças e cooperação. O cuidado constante com essas
questões é essencial e se aplica até mesmo durante um campeonato de futebol.
Sempre os escolhidos para formar os times são os mais hábeis e competitivos.
Ficam para trás aqueles que, por algum motivo, têm dificuldade para jogar.
"Cabe ao professor discutir o problema claramente e perguntar por que foi
escolhido este e não aquele aluno", afirma Paulo Henrique Nilo Monteiro,
selecionador do Prêmio Victor Civita. "Essas respostas vão permitir a ele
trabalhar a questão das diferenças, que não se restringem às habilidades
físicas, mas que são também socioeconômicas e culturais." Discussões desse
tipo podem fazer parte da vivência diária dos alunos. "Não adianta apenas
falar sobre as diferenças e continuar propondo somente atividades clássicas,
como os jogos esportivos", afirma Monteiro. Para ele, uma boa alternativa
é trabalhar com os chamados jogos cooperativos, em que são valorizados
elementos como aceitação, envolvimento, colaboração e diversão. "Joga-se
com o outro e não contra o outro. Para alcançar os objetivos é preciso esforço
e dedicação."
15.Ciências:
sem a dúvida, a turma não avança no conhecimento
"A dúvida é, por excelência, o motor da
ciência", afirma Maria Terezinha Figueiredo, selecionadora do Prêmio
Victor Civita. "O questionamento deve fazer parte da aula do início ao
fim." Em classe, enquanto os assuntos são trabalhados, você pode estimular
os alunos a fazer também suas perguntas. Ao estudar a fotossíntese acompanhando
a germinação de alguns feijões, por exemplo, experimente questionar a turma: o
que tem dentro da semente? Por que comemos feijão? "Quando o professor
estimula o aluno a elaborar perguntas, está instigando sua capacidade de
enxergar o feijão de um jeito diferente do que é apresentado ali", afirma.
A dúvida leva a criança a uma ação investigativa sobre o problema,
aproximando-a do conhecimento. "Sem reflexão e investigação, a ciência não
progride. Como pesquisar se não há algo a descobrir?", indaga Maria
Terezinha. Ao se questionar, a criança verá que há inúmeras coisas que a
ciência ainda não desvendou. "O professor precisa mostrar que muitos
conceitos hoje aceitos são passíveis de mudança, pois a ciência é
dinâmica."
16. Artes: uma
disciplina que também se ensina e se aprende
As aulas de Artes não dependem do talento ou da
sensibilidade dos alunos. A disciplina funciona como qualquer outra: existe um
conteúdo, que pode ser ensinado — e aprendido por todos. Segundo a consultora
Zá Marisa Szpigel, de São Paulo, um bom caminho é mesclar a visão tradicional
do ensino da matéria (em que o estudante baseia seu trabalho em modelos já
prontos) com a menos convencional (em que o professor valoriza a espontaneidade
da criança para criar). Com base nessa interação, o professor propõe modelos e
também cria situações para que o aluno utilize as próprias idéias para
transformar as referências que possui. Ele pode, por exemplo, apresentar uma pintura
famosa como referência. Ao pintar, a criança não deve, no entanto, fazer uma
cópia fiel ou dominar as mesmas técnicas que o artista. O que vale é a
criatividade. O aluno define quais materiais usar, se prefere trabalhar sozinho
ou em grupo e quanto tempo necessita para as tarefas. Essas oficinas dão ao
professor a chance de apresentar os conteúdos e ao mesmo tempo explorar as
capacidades dos alunos sem cobrar deles uma produção artística primorosa. Todos
têm a mesma oportunidade de criar, a seu modo, sem ser comparados. "Ao
propor ao aluno desenhar uma paisagem, não se deve dizer de que modo ele fará
isso ou que tom de verde usará na grama", recomenda Zá.
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