É possível haver ética na política?
"A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que
são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta".(VALLS,
Álvaro L.M. O que é ética. 7a edição Ed.Brasiliense, 1993, p.7)
Segundo o Dicionário Aurélio
Buarque de Holanda, ÉTICA é "o estudo dos juízos de apreciação que se
referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e
do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo
absoluto".
Alguns diferenciam ética e moral de vários
modos:
1. Ética é princípio, moral são aspectos de
condutas específicas;
2. Ética é permanente, moral é temporal;
3. Ética é universal, moral é cultural;
4. Ética é regra, moral é conduta da regra;
5. Ética é teoria, moral é prática.
Etimologicamente
falando, ética vem do grego "ethos", e tem seu correlato no
latim "morale", com o mesmo significado: Conduta, ou relativo
aos costumes. Podemos concluir que etimologicamente ética e moral são palavras
sinônimas.
Passo a considerar
a questão da ética a partir de uma visão pessoal através do seguinte quadro
comparativo:
Ética Normativa
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Ética Teleológica
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Ética
Situacional
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Ética Moral
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Ética Imoral
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Ética Amoral
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Baseia-se em
princípios e regras morais fixas
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Baseia-se na ética dos
fins: "Os fins justificam os meios".
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Baseia-se nas
circunstâncias. Tudo é relativo e temporal.
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Ética Profissional e
Ética Religiosa: As regras devem ser obedecidas.
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Ética Econômica: O que
importa é o capital.
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Ética Política: Tudo é
possível, pois em política tudo vale.
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Ética é algo que todos precisam ter.
Alguns dizem que têm.
Poucos levam a sério.
Ninguém cumpre à risca...
Leia mais:
É possível haver ética na
política?
No Brasil, 2014 é ano de
eleição para presidente, governador, senadores, deputados federais e estaduais.
É hora de não reeleger os políticos profissionais e buscar eleger pessoas que
tenham a política como vocação: aqueles que têm amor e respeito pelo próximo e
que se engajam na política partidária para ajudar na superação dos muitos
problemas sociais a partir das causas.
Política com P maiúsculo é mais do que política
partidária. Todos nós, consciente ou inconscientemente, voluntária ou
involuntariamente, fazemos política. Política é como respiração. Não dá para
viver sem respirar, como não dá para conviver sem fazer política. Optamos o
tempo todo, escolhendo ou rejeitando as coisas. Estamos no meio de uma crise
global e plural: política, econômica, ecológica, ética, civilizacional, das
instituições etc. O redemoinho que nos envolve é grande. Urge recriarmos um
modelo de convivência social e ecológica com relações éticas e estruturas de
fraternidade.
A
importância das instituições
Decisivo para a ética na política não é
simplesmente a ética privada dos governantes, mas o tipo de instituição
política, da qual dependem os cidadãos para ter acesso aos direitos que devem
ser universais.
A convivência social exige a existência de
instituições políticas, criadas para organizar e gerenciar as relações humanas
nas sociedades mais complexas. As instituições políticas, assim como toda
instituição, têm um começo muitas vezes libertador. Todavia, com o passar do
tempo, vão se enrijecendo e afastando-se de seus princípios e inspirações
originais. É o que acontece com as instituições políticas também, salvo
exceções.
Há questões de fundo que solapam as instituições
políticas. Em nível institucional, por exemplo, o financiamento privado das
campanhas eleitorais; em nível de relações humanas (ética), a perda de valores
morais, a incapacidade de confiarmos na nossa capacidade de resolver
socialmente nossos problemas, o que nos faz transferir para salvadores da
pátria essa tarefa. Isso se sente na burocracia, na acomodação e no
corporativismo do funcionalismo público, na desvalorização da experiência
histórica, no consumo exacerbado, no individualismo, na absolutização da
tecnologia (“o sistema não permite”, “tenho que seguir ordens/leis”), no
descaso com os empobrecidos e na banalização do sofrimento. O caos nos serviços
públicos - SUS, escolas públicas e órgãos públicos - é tão grande que passa a
ser considerado natural esperar indefinidamente numa fila que não anda.
Mudar com ética?
Aqui, optamos por entender ética como um jeito de
conviver que encarna a regra de ouro: “Não faça aos outros aquilo que não quer
que lhe seja feito”. Ou seja, mais do que um pensar ético, um agir ético é
imprescindível para realizarmos o desafio de transfigurar as instituições e
pessoas políticas.
Quatro pontos são imprescindíveis para um agir
ético de forma a contribuir para o processo de transfiguração das instituições
políticas. Pensar e agir:
a) a partir do empobrecido. Karl Marx dizia que “o lugar social determina o lugar epistemológico”, ou seja, nossos olhos, em última instância, não estão no nosso rosto, mas nos nossos pés. Pensar e agir a partir do empobrecido, do enfraquecido, do pequeno é encarnar a regra de ouro.
b) de forma
coletiva e participativa. Ninguém é salvador da pátria, nem dono da verdade.
Deve ser uma busca conjunta. Envolver a todos na participação é vital.
Discernir em mutirão a partir dos últimos.a) a partir do empobrecido. Karl Marx dizia que “o lugar social determina o lugar epistemológico”, ou seja, nossos olhos, em última instância, não estão no nosso rosto, mas nos nossos pés. Pensar e agir a partir do empobrecido, do enfraquecido, do pequeno é encarnar a regra de ouro.
c) a partir de toda a biodiversidade. Superar assim o antropocentrismo, que considera o ser humano como o centro/rei da criação. Não é. Hoje, sabemos que todos os seres vivos - terra, água e toda a biodiversidade - integram a mesma comunidade de vida. Nós, os humanos, dependemos de todos os outros seres.
d) a partir
de um modelo econômico justo e sustentável ecologicamente. Isso implica elevar
a Economia Popular Solidária ao status de política econômica de Estado e coluna
mestra da sociedade. Ser vassalo da idolatria do mercado e do capital é algo
imoral e só aprofunda a crise das instituições políticas.
Enfim,
intuo que devemos dedicar 10% das nossas energias para tentarmos eleger os
melhores políticos, aqueles que por vocação aceitam o pedido do povo para
exercer mandatos. E devemos dedicar 90% das nossas energias na construção de
movimentos populares autênticos que orientem a indignação dos pobres frente a tantas
injustiças.
Questões para Debate
1 - Na escola, como poderia acontecer um
processo de sustentabilidade?
2 - Que características seriam necessárias
para uma empresa ser ética e ao mesmo tempo responsável pelo meio ambiente?3 - Como consumidores, qual deve ser a relação com os produtos que consumimos?
De onde vem o
jeitinho brasileiro?
O povo brasileiro, historicamente, confunde o
conceito de direitos com a idéia de favores. Culturalmente, foi assimilando
mais deveres a serem cumpridos do que direitos a serem usufruídos. Da mesma
forma, erradamente, os brasileiros acreditam que o que é público não é de
ninguém. É por isso que nossas atitudes cotidianas somente são compreensíveis
pelos processos culturais que nos fizeram “ser o que somos”.
No filme Os outros, o diretor Fernando Mozart
apresenta o povo brasileiro como muito religioso e que tem adoração pelas
formas arredondadas da bunda, do bumbo e da bola. Os brasileiros, segundo o
filme, não perdem o controle da bola e o rebolar da bunda. O carnaval, por sua
vez, é uma grande festa capaz de superar, instantaneamente, todas as
desigualdades sociais, reunindo todas as seitas religiosas no embalo de um
único ritmo. A idéia de que brasileiros sempre são os outros teria origem no
início da colonização, a partir de uma idéia de que esta é uma terra sem males
e de que aqui tudo se pode.
Então, se o outro pode (roubar, enganar, mentir,
ser corrupto) por que também eu não posso fazer? Desta forma, foram aumentando
e se multiplicando os outros, de forma que hoje ninguém assume mais quaisquer
responsabilidades sobre nada. Outros agora são ninguém. Se não bastasse,
atribuímos a iluminados ou iluminadas salvar o país. O povo se comporta como
expectador e não como protagonista de sua história.
Identidade
brasileira?
Quando o Brasil foi avistado pelos colonizadores,
os índios e, mais tarde, os negros, tiveram sua cultura ignorada e suprimida.
Suas culturas não eram dignas de uma identidade brasileira e, por isto mesmo,
sempre foram marginalizadas. Os colonizadores aqui implantaram ou adaptaram o
modo de pensar europeu de ser. Por muito tempo, em nossa história, ser culto
(possuir ou dominar cultura) significava ter estudado em universidades
européias ou ter viajado pela Europa. Aos brasileiros, sua própria cultura (modos
de ser, pensar e agir) ainda não é suficientemente séria para ser reconhecida e
estudada. O Brasil ainda hoje carece de uma identidade.
Quem é que não conhece o jeitinho brasileiro? Ele é
a expressão notória de que os direitos, sempre conquistados com luta e
organização, são renegados, muitas vezes, entrando em ação os jeitinhos. Sim,
porque estes resolvem, na camaradagem, as situações particulares de cada um.
Por sua vez, os direitos apontam benefícios coletivos e critérios justos, ao
passo que os jeitinhos resolvem os problemas individuais, com vantagens para
quem é beneficiado e quem media o mesmo. Some-se ao jeitinho brasileiro a Lei
de Gérson (sempre levar vantagem em tudo) e explicamos a cultura de corrupção
nos sucessivos escândalos a que vimos assistindo até hoje.
O Brasil tem jeito
O Brasil tem jeito
Muitos brasileiros não se imaginam protestando ou
exigindo direitos. Pois é por conta disso que somos a nação das filas e das
esperas demoradas, abrindo oportunidades para os espertos se darem bem. Os que
lutam por direitos são tratados como baderneiros, rebeldes, vagabundos, gente
que não tem o que fazer. Criou-se, assim, a ideia de que é crime reivindicar e
exigir direitos.
O que é público, por sua vez, é tido como aquilo
que não é de ninguém. Se não é de ninguém, por que cuidar? Público é tudo
aquilo que é um patrimônio de todos. E porque não pensamos assim, vamos
destruindo o que é de todos, porque entendemos que não é de ninguém.
O Brasil tem jeito? Sim, o Brasil terá jeito quando
brasileiros e brasileiras assumirem uma cidadania ativa, exigindo de si mesmos
e dos demais novas posturas e condutas. Acreditamos que é possível? Pois é, se
nem eu e nem você fizermos nossa parte, seremos mais dois no time dos outros.
Comemorar a simbologia do Sete de Setembro é um
gesto de cidadania, é um gesto de amor à nossa pátria Brasil; é um gesto de
valorização pessoal e coletiva, aliado ao orgulho de ser brasileiro. E é, acima
de tudo, a aceitação de que somos os protagonistas da história da independência
iniciada há 185 anos e retratada nos dias atuais.
Hoje, em pleno século 21, muitos domínios nos
impedem de projetar uma vida melhor: a corrupção desenfreada, a fome que mata,
a falta de moradia básica, o ativismo da vida diária, a mídia que impõe limites
negativos, os membros das famílias que não dialogam entre si, o envolvimento
com drogas, a falta de compromisso com as responsabilidades pessoais e sociais,
o descaso das autoridades para com o povo, e tantos outros fatores destrutivos
que percebemos e sentimos no viver histórico de nossas vidas.
No entanto sabemos que a história é feita por
pessoas e são as pessoas que podem modificar a realidade que hoje vivenciamos.
Estas pessoas somos nós. Cada um de nós, no ser e no agir do dia-a-dia, tem
grande importância para a modificação das relações com as pessoas e com a
sociedade. São pequenos gestos que praticamos ou que precisamos aprender a praticar,
dentro de um padrão de valores benéficos e úteis à vivência de uma respeitosa
convivência social, que, somados um a um, poderão tornar a história brasileira
uma história de real significado de independência.
Para isto é preciso incorporar em cada um de nós a
cultura da participação efetiva, da conservação precisa, do bem querer
necessário, do respeito viável e da paz promovedora da justiça. Assim,
poderemos nos orgulhar da nacionalidade à qual pertencemos e da história que
estamos ajudando a reconstruir e construir, cotidianamente.
Somos um país formado por pessoas talentosas,
criativas, inteligentes, batalhadoras, fortes e hábeis, e precisamos unir
nossas forças para vivermos melhor e sermos realmente felizes. É preciso
acreditar, agir e participar da necessária transformação da história
brasileira. Todos unidos num mesmo ideal, projetando e realizando ações para
torná-lo realidade. O que hoje é independência ilusória, brevemente poderá ser
uma realidade vivenciada.
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