É preciso cuidar de si para poder cuidar dos outros


É preciso cuidar de si para poder cuidar dos outros



            Patrícia Mantovani e Flávio Mesquita
Se você já viajou de avião, deve ter prestado atenção nas orientações de segurança dadas pelos comissários de bordo antes da decolagem:
“Em caso de descompressão e o uso das máscaras de oxigênio for necessário, você deve colocar primeiro a máscara em você próprio para depois auxiliar outras pessoas, mesmo que seus filhos ou idosos”.
            Seria isso um sinal de egoísmo ou de uma mentalidade a la “salve-se quem puder” ? De forma alguma… isso se explica por uma questão lógica, simples e inquestionável. Para que você esteja habilitado a prestar auxílio a outras pessoas, é absolutamente imprescindível que você primeiro garanta a sua fonte de oxigênio, caso contrário você corre o risco de “apagar” e, além de não cuidar de si, ainda fica impedido de cuidar dos outros.
            Não é simples e verdadeiramente inquestionável? Pois bem, então porque na vida cotidiana, muitas pessoas acabam por cair na armadilha de que tem sempre que se dispor a ajudar, satisfazer os desejos e necessidades  dos outros antes do que os seus próprios?
            É claro que cada caso é um caso e seria negligente generalizar uma resposta minimamente responsável, mas a investigação pode sim passar por fatores bastante tangíveis. Existe um reconhecimento social para pessoas que vestem a “camisa de super pais ou super mães“, fica bacana dizer (e mostrar) que se é capaz de dar conta de qualquer coisa, de que o bem estar das pessoas queridas é o foco principal da sua própria vida. Ou ainda, de que “o dia para mim deveria ter no mínimo 25 horas para que eu pudesse dar conta de tudo que tenho para fazer… mas a vida é assim mesmo …”
            Não …não é. A vida se transforma nisso se formos coniventes com o estabelecimento de uma rotina que não contemple aspectos importantes da nossa humanidade: lazer, descanso, compromissos saudavelmente organizados, tempos de deslocamento preservados e, porque não, ócio!
            É absolutamente necessário ter tempo para si próprio, para refletir, pensar na vida… meditar. Só assim podemos ser criativos. Se a rotina nos engole com uma sequência interminável de “tenho que fazer” que não passaram por uma censura subjetiva de priorização de fato, nos tornamos um simples repetidor de rotinas pré-programadas …um robô.
            O fato é que ao ter um padrão de não se cuidar, uma pessoa vai bancando uma “conta” imaginária com sua própria vitalidade, energia e saúde. Dessa conta só se fazem saques e um dia, mais cedo ou mais tarde, essa conta entra no vermelho e a pessoa não aguenta mais. Doenças físicas (de origem psicossomática), transtornos psíquicos, crises existenciais ou sensação de stress prolongado podem se estabelecer.         Nesse ponto a pessoa corre o risco de se tornar como aquele passageiro do avião que “apaga” e não consegue mais cuidar nem de si e nem daqueles que ele mais ama.
            Pense nisso: antes de se sentir culpado ou se achar egoísta por se permitir, em algumas situações, fazer valer seu próprio ritmo, interesse ou vontade, reflita se isso não seria uma maneira de fazer “créditos” na sua conta imaginária, habilitando-o a manter o saldo sempre no positivo e, assim, poder continuar cuidando de si e dos outros. Invista sempre no desenvolvimento de sua assertividade, negociando resultados conciliatórios com as outras pessoas.
            Como anda a sua conta imaginária? Você está conseguindo mantê-la no positivo, ou você anda sempre recorrendo ao limite do cheque especial? Lembre-se que os juros sempre serão cobrados…
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