Guernica



Guernica
Mestre em Artes Visuais (UDESC, 2010)
Graduada em Licenciatura em Desenho e Plástica (UFSM, 2008)

Guernica é talvez a obra mais emblemática da carreira de Pablo Picasso e da arte do século XX. Medindo 349,3cm x 776,6cm a obra mostra os horrores do bombardeio à cidade basca de Guernica em 26 de Abril de 1937. Durante a Segundo Guerra Mundial a cidade ficou em chamas após sucessivos ataques por aviões da força aérea alemã e Picasso, mesmo morando em Paris nessa época, não se calou diante do ocorrido depositando na tela todo seu pesar.





A pintura, um óleo sobre tela, foi realizada a partir de 36 fotos que retrataram as dolorosas consequências da tragédia. As fotografias divulgadas pelos jornais da época marcam profundamente o artista que após 45 estudos preliminares, produz a grande obra que inicialmente é exposta num espaço reversado a República Espanhola na Exposição Internacional de Paris.
Do ponto de vista técnico, Guernica ajuda a transmitir a atmosfera da guerra e suas consequências. Para produzir a pintura Picasso utilizou uma técnica bastante difundida no Cubismo – a collage – que consiste na colagem de papeis e objetos para composição da obra. No entanto o artista não se utiliza da colagem propriamente dita, mas de uma simulação da técnica. Desenha e pinta a obra dando a impressão de colagens e criando a sobreposição de planos. Numa total carência da cor, Picasso, movido pela dor do ocorrido faz um retrato monocromático da tragédia, basicamente em preto branco e tons de cinza.
As imagens que compõe a cena são notáveis representações do Cubismo e um convite ao Surrealismoque trazem ao expectador toda agonia e desumanidade dos momentos de horror passados na cidade basca. Quanto às figuras, o artista reproduz a população, os animais e a devastação das construções. A tela é construída a partir de quatro retângulos verticais e um triângulo central que compõe a cena. No primeiro retângulo a esquerda é possível notar a mãe que chora a morte do filho, numa alusão a Pietá, juntamente com o touro de feições humanas. O segundo retângulo traz a agonia do cavalo iluminado pela luz inóspita da luminária a cima. O terceiro traz o rosto de duas mulheres aterrorizadas e o quarto retângulo traz a figura de um homem com os braços para cima, na tentativa de pedir socorro. Além disso, o painel é rico em detalhes que passam despercebidos a primeira vista como a flor ao lado de uma das patas do cavalo no centro da obra.
Atualmente a obra se encontra no Museu Reina Sofia em Madri e ainda é um símbolo das atrocidades cometidas pelo homem.
Sobre as curiosidades que envolvem a pintura está a resposta de Picasso a um oficial nazista que numa revista ao seu apartamento em Paris observa uma fotografia do painel e pergunta ao artista: - Foi você quem fez isso? E Picasso responde: - Não, vocês o fizeram.
Referências bibliográficas:
Guernica ou o manifesto político de P. Picasso. Disponível em: <
http://www.isa.utl.pt/campus/6_pablo.htm>.

Análise/Interpretação da obra.

1.    A obra “Guernica” foi pintada por Pablo Picasso em 1937, e retrata o massacre da cidade de Guernica, na Espanha, pelo poderio militar de Adolf Hitler durante a Guerra Civil Espanhola.
2.    O cavalo: para Picasso, o cavalo em “Guernica” representa o povo inocente. A distorção na cabeça do cavalo revela pânico e a dor do animal mortalmente ferido. Suas narinas e dentes superiores parecem formar a imagem de uma caveira. O ferimento do cavalo, um talho negro em seu flanco, ocupa um lugar de destaque na pintura. Pelo corpo do cavalo, distribui-se pequenos tracejados negros, que remetem as folhas de um jornal, através do qual Picasso leu sobre o massacre de Guernica.
3.    O touro: o touro é um símbolo da cultura espanhola, e sua imagem está associada à força. Mas o touro de “Guernica” não parece particularmente agressivo. Também ele experimenta o terror da carnificina.
4.    As luzes: Picasso pinta uma luz elétrica na cena, que lembra um olho maligno ou a lâmpada da cela de um torturador. Próxima a ela, está um candelabro, de formas mais suaves. A oposição entre os dois símbolos representa a dicotomia entre o bem e o mal, a morte e a vida.
5.    As figuras humanas: impotentes e distorcidos pela dor, com seus corpos dilacerados, não demonstram a nobreza da batalha, apenas o pânico da tragédia. Da esquerda para a direita, vemos uma mãe com o filho morto nos braços (uma moderna pietá), um soldado caído que traz na mão esquerda um estigma de Cristo (uma provável referência a obra Os Fuzilamentos de Três de Maio, de Goya), uma mulher esgotada e desorientada, uma figura feminina trazendo um candelabro, completamente incrédula ante a tragédia, e uma pessoa em chamas, que ergue os braços para o vazio.
6.    A margarida: vemos uma margarida na mão direita de um soldado caído, delicadamente desenhada, um pequeno símbolo de esperança. Nesta mesma mão, o braço decepado segura com firmeza uma espada quebrada, que representa a resistência do povo espanhol.
 7.    As cores: Picasso utiliza-se das cores preto, branco e cinza, tornando a obra bastante sombria. O uso destas cores na obra “Guernica” também podem remeter as matizes de um jornal. 


"A obra de arte para um artista moderno como Picasso cumpre sempre uma função social. Ao observarmos a tela nos deparamos com figuras que expressam aflição, dor, insegurança, sofrimento, como a mulher com a criança no colo e o cavalo. As cores usadas pelo pintor em tons cinza e nas cores preta e branca nos remetem à morte, ao horror, ao desumano, à guerra e à destruição. Os aspectos simbólicos da obra expressados pelas figuras do touro, da flor, da mão que segura uma espécie de lamparina são fortes e passíveis de várias interpretações. São figuras que no conjunto da obra nos dão a ideia da luta, da violência acontecida no vilarejo e ao mesmo tempo representam o recomeço, a esperança de um povo inocente que se viu massacrado pela ambição de outros.

Uma obra de arte como Guernica é um documento histórico, em determinado momento ela fala por si e nesse momento podemos identificar traços de uma época distante, analisar aspectos políticos, culturais e sociais de um período conturbado. É o resgate de um tempo e um espaço cheio de significados, percebidos coletivamente ou não. É uma mensagem que se ajusta no tempo, pois a obra, mesmo não sendo a guerra em si, recupera seus aspectos destrutivos e desumanos como forma de denúncia. Toda expressão artística está profundamente ligada à História."

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