As 7 aprendizagens básicas para a educação na convivência social José Bernardo Toro – Fundacion Social – Colômbia


1.  APRENDER A NÃO AGREDIR O SEMELHANTE
Fundamento de todo modelo de convivência social
O homem é um dos poucos mamíferos que ataca e destrói seus semelhantes: conhece a tortura e é capaz de matar os seres de sua própria espécie. Os especialistas em comportamento animal (os etólogos) dizem que o homem tem um baixo nível de inibição genética frente à vida de seu semelhante. Isto o difere da maioria dos animais superiores que estão naturalmente inibidos de matar um outro ser de sua própria espécie.
Por isso o ser humano deve aprender e ser ensinado a não agredir, nem física nem psicologicamente os outros seres humanos.
 A agressividade é natural e fundamental em todos os animais, incluindo-se o homem. É ela que gera a força para enfrentar as situações difíceis, abordar os problemas e empreender grandes propósitos: cuidar dos filhos, a pesquisa, a política, o trabalho pela justiça, etc. No homem a agressividade pode converter o amor em hostilidade (ódio) pelo outro  e isso depende em grande parte dos ensinamentos e experiências que se tenha tido na vida.
O homem deve ser ensinado a não agredir seu semelhante (nem psicológica nem fisicamente), ensinado a orientar sua agressividade em direção ao amor, entendendo-se isso como uma “luta constante para fazer a vida possível”. Não é ensinar-lhe a deixar o combate, mas sim perder a combatividade. A ser forte mas sem perder a ternura nem a compreensão pelo outro.
A agressividade se converte em amor ensinando e aprendendo a conhecer o outro, o qual, sendo diferente, é plenamente humano como nós. O outro, por ser diferente, pode ser complemento ou talvez opositor, mas nunca inimigo.
 Aprender a não agredir ao outro significa:
·         Aprender a valorizar a vida do outro como a minha própria.
·         Aprender que não existem inimigos; existem opositores com os quais podemos estipular regras para resolvermos as diferenças e os conflitos e lutar juntos pela vida.
·         Aprender a valorizar a diferença como uma vantagem que nos permita compartilhar de outros modos de pensar, sentir e agir.
·         Aprender a buscar a unidade, mas não a uniformidade.
·         Aprender a ter no cuidado e na defesa da vida o princípio maior de toda convivência.
·         Aprender a respeitar a vida íntima dos outros.
Não agredir ao semelhante é uma aprendizagem que devemos cultivar todos os dias da vida.
2 – APRENDER A COMUNICAR-SE
Base da auto-afirmação pessoal e social
A auto-afirmação pode ser definida como reconhecimento que os outros dão à nossa forma de ver, sentir e interpretar o mundo. Nós nos afirmamos quando o outro nos reconhece e ele próprio se afirma com o nosso reconhecimento.
Todo ato de comunicação (verbal, através de gestos, escrito, etc.) busca transmitir uma mensagem, uma forma de ver o mundo, que esperamos ser reconhecida pelos outros.
A primeira função da comunicação é a busca do reconhecimento, por isso a recusa à comunicação com o outro produz hostilidade e afeta sua auto-estima.
O meio básico da comunicação é a conversação, porque a palavra é um meio de comunicação totalmente autônomo e todos a possuem. A convivência social requer aprender a conversar. Através da conversação podemos nos expressar, compreender, esclarecer, concordar, discordar e comprometer. Em uma conversação autêntica, cada um busca convencer os outros, mas também aceita ser convencido; e é nesse propósito mútuo que se constrói a auto-afirmação de cada um e de todo um grupo. Por isso a mentira compromete toda comunicação.
A construção da convivência social requer o fortalecimento e a criação de espaços para a conversação: cafeterias e clubes onde os jovens possam conversar; espaços para que crianças convivam entre si, com os membros mais velhos de sua família e de sua comunidade. Espaços para que os governantes possam conversar com seus governados, as minorias com as maiorias, etc. Sociedade que aprende a se comunicar de muitas maneiras sempre encontra formas de solucionar seus conflitos pacificamente.
A conversação em família é o primeiro espaço para se aprender a comunicar.
3 – APRENDER A INTERAGIR
Base dos modelos de relação social
Aprender a interagir supõe várias aprendizagens:
1. Aprender a abordar os outros: São importantes as regras de saudação e cortesia
2. Aprender a comunicar-se com os outros: Saber reconhecer o significado e mensagens dos outros e desejar que suas mensagens e sentimentos sejam captados. Saber conversar é saber decidir.
3. Aprender a estar com os outros: Perceber que os outros “estão conosco” no mundo buscando e desejando ser felizes como nós. Aprender a concordar e a discordar sem romper a convivência. Aprender a ceder e a aceitar que o outro ceda.
4. Aprender a viver a intimidade: Esta é a importância de aprender a cortejar e de aprender a amar.
5. Aprender a perceber-nos e a perceber os outros como pessoas que evoluem e se modificam nas relações mútuas, mas guiados por regras básicas universais: os Direitos Humanos. Isso significa aprender que qualquer modelo de convivência que construamos deve sempre respeitar os Direitos Humanos. Estes são os direitos de todos os homens anteriores a qualquer distinção, que precedem toda lei, religião, partido ou crença e que estão reafirmados na Constituição.
4 – APRENDER A DECIDIR EM GRUPO
Base da Política e da Economia
Aprender a conviver supõe aprender a sobreviver e a transcender-se e esses três propósitos fundamentais do homem (sobrevivência, convivência e transcendência) não são possíveis se não se aprende a consensar com os outros, interesses e o futuro.
Aprender a decidir em grupo implica em aprender que os interesses individuais e dos grupos existem; que os interesses formam parte constitutiva do ser humano e são um fator dinamizador da convivência social se aprendemos a negociá-los e a construir consensos sobre eles.
A negociação é a condição da decisão em grupo. Podemos definir o consenso como a escolha de um interesse compartilhado que, ao ser colocado fora, faz com que oriente e comprometa a todos que o escolhem. Podemos dar diversos nomes ao interesse que selecionamos: propósito, meta, estatuto, ata, convênio, capítulo, contrato; e quando é uma escolha de toda a comunidade, chamamo-lo de constituição.
Uma verdadeira negociação supõe que aceitamos evitar ou recusar os interesses e propósitos que vão contra ou deterioram o que foi negociado.
Para que a negociação seja útil para convivência social, quer dizer, para que haja compromisso e sirva de orientação para o comportamento, é necessária a participação direta ou indireta de todos que ela vai afetar. Quando uma conciliação exclui alguém (pessoa ou grupo), este não se sente comprometido e buscará transgredir ou atacar o consenso.
O grau de convivência de uma sociedade depende de sua capacidade de conciliar interesses de uma forma participativa em todos os níveis: familiar, de ruas, de bairro,  regional, nacional e internacional.
Toda organização social (escola, bairro, empresa, partido, clube, grupo, etc.) é tanto mais forte quando mais possa haver negociação e consenso de interesses mais elevados que comprometam, orientem e beneficiem à maioria.
Aprendendo a negociar e consensar em grupo pode-se chegar a aprender o maior nível: o do interesse geral ou bem-comum.
Por ser todo consenso um ato criado pelo homem, pode ser alterado ou modificado se os membros estão de acordo. Por isso, todo bom consenso (como toda boa constituição) estabelece regras para mudá-lo ou modificá-lo.
Quando se entende a importância da negociação e do consenso, entende-se a importância de conhecer e proteger uma constituição que tenha sido feita com a participação direta ou indireta de toda uma sociedade.
5 – APRENDER A SE CUIDAR
Base dos modelos de saúde e seguridade social
A saúde é um bem pessoal que se constrói ou destrói à base de comportamentos. A convivência  supõe aprender a cuidar de seu próprio bem-estar físico e psicológico e dos outros, porque esse cuidado com o próprio corpo e com o corpo dos outros é uma forma de manifestar amor à vida.
Aprender a se cuidar significa também aprender a criar condições de vida adequadas para todos: moradia, alimentação, saúde, lazer, trabalho, etc. Se o outro não tem condições adequadas de vida, a convivência não é possível, porque a sobrevivência é condição para a convivência.
Aprender a se cuidar supõe:
·         Aprender a proteger a própria saúde e a de todos como um bem social (essa é a importância dos hábitos de higiene e dos comportamentos de prevenção).
·         Aprender e valorizar as normas de segurança industrial.
·         Ter uma percepção positiva do corpo a nível pessoal e coletivo como forma de expressão (a importância do esporte, da dança, do teatro, da ginástica, etc.).
Sem uma cultura de cuidado com o corpo e com as condições de vida, não é possível desenvolver um adequado sistema de saúde e de seguridade social: não é possível proteger a todos se cada um não sabe se cuidar.
Toda ética supõe uma ética de amor próprio; e o cuidado de si mesmo é a primeira premissa dessa ética.
6 – APRENDER A CUIDAR DO LUGAR EM QUE VIVEMOS
Fundamento da Sobrevivência
Aprender a conviver socialmente é antes de tudo aprender a estar no mundo. A convivência social é possível se aceitarmos que somos parte da natureza e do Universo e que não é possível ferir o planeta Terra sem ferirmos a nós mesmos. Se destruirmos o planeta, para onde iremos?
Uma ética da convivência social supõe o cuidado com o lugar onde estamos: a biosfera.
Aprender a cuidar do meio-ambiente supõe não confundir riqueza com dinheiro. Para conseguir dinheiro estamos destruindo a riqueza: a água, o oxigênio, o ozônio, a mata tropical, a biodiversidade. Atualmente um dos maiores consensos que devemos construir é o do cuidado com o planeta. Para nós não é possível sobreviver se o planeta morrer e o planeta Terra não pode sobreviver como “nossa casa” sem o nosso cuidado.
A convivência social implica em educar nossos filhos em uma visão planetária da vida. Isto parece óbvio, mas não é fácil porque não nos sentimos como parte da natureza: ainda acreditamos que somos “donos” dela.
Aprender a cuidar do meio-ambiente onde vivemos significa:
·         Aprender a perceber o planeta Terra como um ser vivo do qual formamos parte, porque se o planeta morre morreremos também.
·         Aprender a cuidar, valorizar e defender o ar, o ozônio, as matas, a biodiversidade, a água, os minerais, as reservas naturais, etc. como a verdadeira riqueza comum, a qual não pode ser apropriada exclusivamente para benefícios particulares ou privados.
·         Aprender a conhecer todas as formas de vida da natureza e a forma como elas dependem de nós e nós delas; essa é a importância do conhecimento e da difusão pública das Ciências Naturais e das Ciências da Terra.
·         Aprender a defender e cuidar do espaço público das cidades e dos campos como os lugares onde os homens se encontram e se expressam como seres no mundo.
·         Aprender a usar e controlar o lixo e os desperdícios, valorizando a reciclagem do lixo como a melhor estratégia para proteger o ambiente e a vida.
·         Aprender a se opor à produção de resíduos que danificam o planeta e destróem a vida (resíduos atômicos, produtos não biodegradáveis).
·         Aprender a negociar os conflitos para tornar a guerra um ato inútil e impensável.
7 – APRENDER A VALORIZAR O SABER SOCIAL
Base da evolução social e cultural
Podemos definir o saber social como o conjunto de conhecimentos, práticas, aptidões, destrezas,  procedimentos, valores, símbolos, ritos e sentimentos que uma sociedade julga válidos para sobreviver, conviver e projetar-se (transcender-se).
Todo saber é criado pelo Homem, é um produto cultural e, como tal, tem forma de ser produzido, acumulado, transferido e difundido. E, como qualquer produto humano, é passível de modificar-se, deteriorar-se ou desaparecer.
 Na sociedade há dois grandes tipos de saber:
1. O saber cultural: Produzido através da prática diária ou da observação comunitária dos fenômenos, o qual se acumula e se aperfeiçoa ao longo de largos períodos de tempo; transmite-se dos mais velhos aos mais novos nas rotinas de trabalho, na vida diária e geralmente de forma oral; conserva-se na memória dos mais velhos nas tradições e nos rituais. A esta categoria pertencem saberes tão importantes como os hábitos de criança, as formas de arrumar a casa, os costumes à mesa e a comida, as formas de cortejar, a formação de valores, etc.
2. O saber acadêmico: Produzido através de metodologias internacionalmente reconhecidas (método científico), classificado em disciplinas; acumulado através de livros, textos, revistas, bases de dados, etc. A este grupo pertencem as ciências conhecidas: Física, Química, Economia, Psicologia, etc.
Todos os dois saberes são importantes para a convivência social porque é no saber social (cultural e acadêmico) que o homem evolui enquanto  homem. O que chamamos de natureza humana não é algo definido, a priori o ser humano se faz e evolui na cultura e no saber acadêmico nos quais lhe toca viver.
O conhecimento e contato com os melhores saberes  culturais e acadêmicos de cada sociedade produz homens mais racionais, mais vinculados à história e à vida quotidiana da sociedade e,  portanto, mais capazes de compreenderem os benefícios e possibilidades da convivência social.
Para isso é importante:
·         Que a nível familiar e local, as crianças mais jovens conheçam o significado e origem das tradições e costumes de sua comunidade. Isso as vincula à sua história e à vida quotidiana.
·         Que o ensino da História seja o ensinamento das formas pelas quais os diferentes grupos sociais cuidaram e construíram as atuais formas de convivência (com seus acertos e suas falhas). Isso lhes confirma que toda convivência é construída e criada pela vontade dos próprios homens.
·         Que todos os professores tenham uma profunda mentalidade democrática moderna
·         Trabalhar por um sistema educativo muito produtivo e de qualidade, para que realmente as crianças e os jovens possam adquirir os melhores conhecimentos, aptidões e valores que a sociedade possui. Um sistema educativo efetivo e de qualidade é um fator positivo de convivência, porque produz pessoas seguras de si e equilibradas psicológica e socialmente

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