Professores não-leitores = alunos não-leitores
Em
pesquisa realizada pela UNESCO e pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) em que avalia em vários países, o desempenho
dos alunos na faixa de 15 anos, na sua capacidade leitora, e publicada na
revista Veja na primeira semana de julho de 2003, o Brasil obteve o 37º
lugar, ficando no grupo dos países que obteve o pior desempenho nessa avaliação
(Veja, 2003).
Esse resultado, mesmo discutível pelas
condições em que a pesquisa foi feita, não me surpreendeu porque já havia
observado, no meu trabalho com formação de professores e em outras tantas
pesquisas realizadas por diversas instituições brasileiras, as dificuldades que
parte dos professores encontra para formar alunos leitores. Isso tudo fez
aumentar minhas reflexões sobre os possíveis motivos desse lamentável
resultado. Entre tantas prováveis justificativas para esse desempenho, como o
despreparo dos gestores das escolas, dos coordenadores pedagógicos,
deficiências em toda uma infra-estrutura de apoio, da ausência da família na
vida escolar dos filhos, um dos problemas percebidos em minha relação com um determinado
número de professores do Ensino Fundamental, e que traz sérias conseqüências na aprendizagem, é a dificuldade que
parte desses professores encontra para desenvolver a habilidade leitora nos
alunos por não possuírem eles próprios essa habilidade.
Na relação com os professores com quem
trabalhei, ficou visível que muitos deles não tinham conhecimento da
constituição dos diferentes gêneros textuais orientados nos PCNs, nem conheciam
a importância do suporte no processo de leitura. Os aspectos cognitivos no
processo da leitura também estavam distantes de suas construções. Um exemplo
bem claro dessa distância pôde ser comprovado na fala de uma professora, ao
participar da reflexão sobre os gêneros textuais a serem trabalhados de 1ª a 4ª
série: “Eu vou ter que ensinar texto informativo para os alunos? E vou ter que
ensinar por que eles são= informativos? Então eu vou ter que aprender primeiro
(L, professora da 2ª série).
Essa fala deixou claras as dificuldades
em pôr em prática o que estabelece a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional), na Seção III, Art. 32: “O ensino fundamental, com duração mínima de
nove anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá por objetivo a
formação básica do cidadão, mediante:
“I – o desenvolvimento da capacidade de
aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
cálculo”.
Minhas experiências e leituras me
permitem afirmar que a forma como os professores adquiriram a leitura traz
sérias implicações na sua prática pedagógica no que se refere à formação de
alunos leitores.
Segundos
os PCNs, “nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecnicismo educacional”,
inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do
ensino, que definiu uma prática pedagógica altamente controlada e dirigida pelo
professor, com atividades mecânicas inseridas numa proposta educacional rígida
e passível de ser totalmente programada em detalhes.
Assim,
inferimos que há uma lacuna, na formação de grande parte dos professores que
gera uma total dependência no tocante à leitura. Como eles poderão formar
alunos leitores se existe essa lacuna? E como preenchê-la? Como os alunos vão construir conhecimentos se eles precisam da mediação
de um leitor experiente, que os ajudem na atribuição de significados nos textos
que lêem?
A
formação desse leitor existente na sala de aula está em desacordo com as atuais
necessidades exigidas de um indivíduo que atua numa sociedade rodeada de textos
de todos os tipos, e apontar possíveis caminhos para minimizar esse problema,
enfatizando o desenvolvimento do professor leitor nos cursos de formação e
levá-los à reflexão crítica sobre sua prática é meu objetivo.
Considerações finais
Por todas as observações que fiz é que
proponho ampliar minhas reflexões sobre essa problemática: quais as implicações
na prática pedagógica na formação leitora do aluno a formação leitora do
professor?
Conhecendo
a defasagem que há na formação leitora de parte de nossos professores, faz-se
necessário que os cursos de formação profissional e capacitação continuada
organizem e enfatizem o trabalho para suprir essa deficiência canalizando suas
práticas pedagógicas para uma vivência de leitura que esses professores não
tiveram na sua experiência como aluno. Eles precisam passar pelas várias
operações que envolvem o ato de ler, vivenciar estratégias cognitivas que são
operações automáticas e não conscientes para o leitor; desmistificar que as questões
propostas na maioria dos livros didáticos são suficientes para a formação
leitora dos alunos; e conscientizar-se de que sua participação como leitor
proficiente, em conjunto com os alunos, é que construirá o sentido dos textos.
É,
na verdade, uma “desconstrução”, difícil, pois solidificada, desse leitor que
atua em sala de aula e não vem obtendo grandes resultados na formação leitora
de alunos e partir para uma construção de um novo leitor, mais competente.
Trechos do texto: FORMAÇÃO LEITORA DO PROFESSOR E AS IMPLICAÇÕES NA
SUA PRÁTICA
PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE ALUNOS LEITORES Autora: Helena Aparecida de OLIVEIRA
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