Um senhor toma o ônibus ...

 

Um senhor toma o ônibus depois de comprar o jornal e o pôs embaixo do braço.

Meia hora mais tarde, desce com o mesmo jornal sob o mesmo braço.

Mas já não é o mesmo jornal, agora é um monte de folhas impressas que o senhor abandona num banco de uma praça.

Apenas fica só no banco, o monte de folhas se torna outra vez um jornal, até que um rapaz o vê, o lê, e o deixa convertido em um monte de folhas impressas.

Apenas fica só no banco, o monte de folhas se torna outra vez um  jornal, até que uma velha o encontra, o lê e o deixa convertido em um monte de folhas impressas.

Depois o leva para sua casa e no caminho o usa para enrolar meio quilo de acelgas, que é para o que servem os jornais depois destas excitantes metamorfoses.

Júlio Cortázar (In Histórias de cronópios e de famas)

 

Todo material tem o valor que lhe é conferido pelo uso que dele se faz. Um texto é apenas uma porção de letras impressas, até que o leitor se aproprie do que ele diz e, então, dê alma às letras fazendo-as texto de fato. De certa forma, apropriar-se do texto do outro é torná-lo seu, é fazê-lo próprio também.

O desenvolvimento das competências profissionais dos educadores passa necessariamente pela ampliação do universo de conhecimentos e pela reflexão sobre a prática, é possível não só aprender mais sobre os conteúdos da formação e analisar criticamente a prática profissional, mas também ampliar as capacidades de leitura e escrita, de interpretação e expressão.

Em seu livro 40 escritos, (Editora Iluminuras, 2000) Arnaldo Antunes diz algo que traduz a certeza – que também temos – de que cada texto é único: "A frase que eu digo não será a mesma frase se sair da sua boca. Ou se eu a disser dentro de um período. Ou com outra ordem de palavras. Ou se houver uma trilha sonora ao fundo. Ou se mudarmos a trilha sonora. Ou se ela for escrita numa letra trêmula. Ou em tipo composto num jornal. Ou como letreiro de uma loja. Ou se dita só para testar o eco desta sala. Ou se for mentira. Ou se tiver uma platéia escutando." Também cada leitura é única, singular... e o desafio é compartilhá-la, torná-la acessível ao outro e fazê-lo entender nosso ponto de vista. Afinal, a eficácia da comunicação está na aproximação máxima entre o que se pretendia dizer, o que efetivamente se disse e o que é compreendido.

Esperamos que todos os gestores, coordenadores, professores não só leiam muitos textos e deles se apropriem, mas que produzam os seus próprios, para que muitos outros leiam. Conquistando cada vez mais essa aproximação entre o dito e o compreendido.

Equipe Técnica Pedagógica adaptado do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - MEC

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