Aprendizagem Baseada em Problemas x Aprendizagem Baseada em Projetos

 

Entenda o que é a aprendizagem baseada em problemas

A maioria esmagadora de nós deseja ficar bem longe qualquer tipo de conflito. Por isso, pensar em uma aprendizagem baseada em problemas pode parecer, à primeira vista, algo bastante controverso e até mesmo impossível de ser realizado. No entanto, quando analisamos a situação de modo mais racional, chegamos à conclusão de que a realidade é bem diferente.

Com o passar do tempo, é muito comum que a realidade da educação se altere. Tais mudanças dinâmicas são esperadas quando falamos de uma área diretamente relacionada com o ser humano, que está em constante evolução física e psicológica. Assim, precisamos nos adaptar às novas demandas e oferecer uma educação de qualidade aos nossos alunos.

Dito isso, fica o questionamento: como podemos, afinal, elaborar uma educação pautada na resolução de problemas? Quais são as vantagens dessa abordagem tão diferenciada?

 


O que é, afinal, a aprendizagem baseada em problemas?

 

A maioria de nós foge de problemas, não é mesmo? A simples menção de algum conflito pode ser o gatilho necessário para que muitas pessoas desenvolvam uma severa ansiedade e se sintam mal, tanto física quanto emocionalmente. É, de certo modo, da natureza do ser humano evitar esse tipo de situação.

No entanto, uma coisa é certa: os problemas fazem parte de nosso dia a dia. Eles aparecem de várias formas diferentes e nos mais variados lugares: tanto no âmbito social quanto na escola e, claro, no emprego. Os problemas fazem parte até mesmo da educação, como é observado nos exercícios de matemática e de várias outras disciplinas.

A aprendizagem baseada em problemas, ou simplesmente conhecida como ABP (ou até mesmo PBL, sigla oriunda do inglês problem based learning) é, portanto, uma metodologia voltada para a aquisição do conhecimento por meio da resolução de situações. Essa é uma inovação muito interessante e que vem sendo utilizada com bastante sucesso mundo afora.

 

 

Quais são os pilares desse tipo de metodologia?

 

A abordagem baseada na resolução de problemas tem como principal objetivo mesclar alguns dos princípios básicos da educação, ou seja, a teoria e a prática. A intenção aqui é fazer com que o aprendizado seja mais dinâmico e ocorra de forma simultânea, fazendo com que o aluno tenha as bases teóricas e teste-as ao mesmo tempo.

A ABP faz com que os alunos se tornem muito mais engajados, especialmente por dar vez a outros métodos de ensino que diferem bastante da educação engessada das salas de aula tradicionais. Isso cativa o interesse da turma e, simultaneamente, os ajuda a desenvolver seus conhecimentos de forma mais abrangente.

O principal pilar da ABP é, portanto, a organização da proposta pedagógica em torno da resolução de problemas e não com a separação de disciplinas a que estamos habituados. Além disso, há a preocupação com o ato de lecionar a teoria e fazer com que a classe aplique os conteúdos vistos imediatamente, fixando o aprendizado e explorando os conceitos mais profundamente.

 

Quais são as vantagens mais marcantes dessa estratégia?

Em primeiro lugar, o benefício mais facilmente observado desse tipo de metodologia é o maior engajamento dos alunos em relação ao ensino. Por trazer aulas mais dinâmicas e divertidas, eles participam muito mais e têm um desempenho muito mais satisfatório em sala de aula.

Depois, uma das vantagens mais marcantes é o desenvolvimento da autonomia e do protagonismo dos estudantes. Por ser uma metodologia voltada para a resolução ativa de problemas, os alunos aprendem a controlar o próprio aprendizado ao escolher os modos como absorvem o conhecimento.

Esse tipo de metodologia é, inclusive, muito democrático. Como existem vários tipos de inteligência em uma sala de aula, é muito mais fácil atingir a todos os estudantes simultaneamente quando utilizamos a estratégia ABP. Assim, todos podem aprender igualmente, fazendo com que a sala evolua em sincronia.

 

Como ela funciona na prática?

 

Toda a dinâmica da sala de aula é modificada quando utilizamos a metodologia ABP. Aqui, o professor não é mais visto como um mestre que se posiciona em frente à classe e dá a sua aula. Esse tipo de abordagem, que é praticamente unilateral, dá lugar a uma estrutura muito mais interessante.

Na ABP, o professor atua como um guia que conduz os estudantes e caminha lado a lado a eles na busca pelo conhecimento. São apresentados problemas cotidianos e, a partir deles, as disciplinas são ensinadas simultaneamente. Por exemplo: um rio, em determinada cidade, encontra-se poluído. Como podemos solucionar esse problema?

A partir daí, várias questões de biologia, geografia, física e química são abordadas e, juntos, os alunos chegam a uma conclusão de como resolver esse problema. Esse tipo de abordagem pode ser feita pouco a pouco, fazendo com que os corpos docente e discente se habituem à nova realidade de maneira gradual.

 

Qual é a importância da aprendizagem baseada em problemas para os alunos?

Embora o ensino tradicional dê muito certo em várias escolas pelo Brasil, é inegável que essa abordagem tem se tornado cada vez mais obsoleta com o passar dos anos. O avanço da tecnologia e as próprias mudanças da sociedade e da geração atual (fenômenos comuns e que se repetem com frequência em nossa história) demandam novas estratégias para o ensino.

A educação está em constante evolução e, por isso, buscar metodologias que abracem as novas necessidades dos estudantes é sempre uma boa pedida. Bons exemplos são o STEM e STEAM, que utilizam a problemática para ministrar aulas interessantes e que atraem a todos os estudantes.

Contar com uma empresa especializada para fazer essa transição é extremamente importante, tanto para o treinamento da equipe quanto para a adaptação de pais, responsáveis e, claro, dos próprios alunos e funcionários de uma escola. O médio e curto prazo, no entanto, investir nessa estratégia funciona como um belo diferencial para a instituição e promove melhores resultados gerais entre os alunos.

Com isso, concluímos que no contexto do século XXI, a aprendizagem baseada em problemas pode ser uma ótima estratégia para a educação de crianças e adolescentes das mais variadas idades, preparando-os para o mercado de trabalho e também para a resolução de conflitos variados durante a vida. Então, que tal implementar tais conceitos em sua escola?

Aprendizagem Baseada em Projetos: entenda o que é e como funciona na prática

A metodologia ativa contextualiza o conhecimento e favorece o protagonismo, autonomia e a colaboração entre os alunos. Entenda como implementá-la no ensino remoto

POR: Aline 08 de Junho | 2021

O uso de metodologias ativas, que colocam o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem, tem ganhado força ultimamente. Uma dessas metodologias é a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP). A partir de uma questão norteadora, em geral ligada à realidade dos estudantes, eles investigam, debatem e elaboram um produto ou uma possível solução, usando os conteúdos curriculares. Nesse processo, trabalham em grupos e aprendem de forma coletiva e colaborativa.

Uma das vantagens da ABP é que a relação com um tema ligado ao contexto dos estudantes tende a despertar o interesse da turma e favorecer o engajamento. Foi o que aconteceu com o professor Luiz Felipe Lins em seu projeto “Geometria e Construção”, vencedor do Prêmio Educador Nota 10 em 2020. Ao receber o panfleto de um prédio em construção, Luiz Felipe levou o material a seus alunos e percebeu que eles nunca tinham visto uma planta baixa. “A maioria mora em comunidades e as casas são construídas aos poucos”, diz o professor, que dá aula de Matemática para o Fundamental 2 na rede municipal do Rio de Janeiro.

Ele aproveitou então a oportunidade para ensinar alguns conceitos de arquitetura. Dividiu os alunos em grupos e propôs que cada um montasse o projeto de uma casa. Com a atividade, ele conseguiu abordar conceitos matemáticos como escalas e áreas. Durante o processo, percebeu também algumas deficiências da turma, como a dificuldade de realizar operações com decimais, e aproveitou para repassar o conteúdo.

O professor explica que, nesse tipo de prática, há um planejamento de como serão trabalhados determinados conteúdos, mas o processo pode ser adaptado de acordo com o que os estudantes vão trazendo. “Existe um planejamento e eu vou articulá-lo aos conceitos que preciso trabalhar, como área, mas eles apontam outras necessidades também, e eu abordo esses conteúdos na aula seguinte”.
No projeto, os alunos calcularam a quantidade de piso necessária para a casa, fizeram uma pesquisa de campo para orçar o custo do material e montaram uma planilha — primeiro de forma manual e, depois, no computador. Por fim, os grupos construíram uma maquete das casas planejadas e apresentaram para o restante da classe. 
 

Conheça as diferenças e as semelhanças entre as duas metodologias

A Aprendizagem Baseada em Problemas é um recorte da Aprendizagem Baseada em Projetos, explica Fernando Trevisani. “A primeira é um estudo mais focado, em geral, relacionado a uma questão específica. Já a Aprendizagem Baseada em Projetos pode envolver muitos assuntos em um único projeto.”

Além disso, a Aprendizagem Baseada em Problemas pressupõe a elaboração de uma solução para um dado desafio, geralmente de um cenário hipotético. Já a Aprendizagem Baseada em Projetos procura solucionar problemas da vida real com propostas mais amplas.

Em ambos os casos, o objetivo é despertar o interesse dos alunos sobre determinados temas, relacionando diferentes conceitos e habilidades. Nesse sentido, os dois modelos conseguem colocar o estudante no centro da aprendizagem e atendem às propostas da BNCC.

Alunos protagonistas

A ideia de trabalhar com projetos também pode partir dos próprios alunos. Foi o que aconteceu com Arabelle Calciolari, professora de inglês para os Anos Iniciais do Fundamental da rede municipal de Jundiaí (SP) e uma das premiadas do Educador Nota 10 em 2019. Sua colega, a professora de Educação Física Mariana Maziero, precisava trabalhar hip hop com os alunos. Como Arabelle já havia envolvido as turmas em outros projetos, eles deram a ideia de convidar a educadora para esse trabalho. Assim, ela pôde trabalhar os aspectos históricos e sociais do gênero.

Chamado de “Hip hop: do passado à atualidade”, o projeto articulou não só a dança, mas a música, o grafite e as questões raciais envolvidas. Além disso, os alunos puderam conhecer um coletivo que atua na cidade, a exemplo dos coletivos norte-americanos da década de 1980.

Quando foi realizado, no período de aulas presenciais, o projeto resultou em um grafite no muro da escola, mas Arabelle destaca que o mais importante foi o aprendizado durante o processo. “Fomos notando algumas mudanças nas crianças. Eles aceitaram muito bem o projeto. Teve aluno que ficou o ano inteiro com vergonha, mas na hora dançou”, conta a professora que já havia desenvolvido outros projetos anteriormente, envolvendo o dramaturgo William Shakespeare e os Beatles.

 

Avaliação e BNCC

Arabelle e Luiz Felipe observam que a avaliação de um projeto tem de considerar todo o processo de desenvolvimento e não apenas o produto final. “Às vezes, o educador foca no produto final, achando que isso vai mostrar se o aluno aprendeu ou não. Mas é durante o processo que está ocorrendo a aprendizagem, e aí devem entrar a escuta e o olhar atento do professor”, ressalta Arabelle.

No projeto de Luiz Felipe, a avaliação final consistiu em uma autoavaliação, na qual os alunos contaram as dificuldades que encontraram, as aprendizagens que tiveram e como eles usaram a matemática. “Isso foi muito rico. Alguns estudantes relataram que aprenderam a trabalhar em equipe e a escutar o outro. Uma estudante disse que perdeu a vergonha do pai, que era pedreiro”, lembra o professor.

Segundo Fernando Trevisani, consultor pedagógico, especialista em educação inovadora e doutorando em metodologias ativas, a ABP é um bom modelo para desenvolver não só conhecimentos específicos, mas também as competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “O trabalho em grupo vai exigir que as crianças trabalhem juntas, cooperem, tenham empatia com a dúvida da outra, comuniquem-se e argumentem para convencer os colegas de uma possível estratégia”.

Além disso, a metodologia traz a possibilidade de integrar duas ou mais disciplinas, como fez Arabelle. “A BNCC é dividida em componentes curriculares, e a ideia do projeto é tentar integrar isso, porque muitas das habilidades propostas dizem respeito a um mesmo fenômeno, ao mesmo objeto de estudo”, reforça o consultor.

“Dentro do projeto conseguimos trabalhar um tema e juntar todos os componentes curriculares. Essa interação é importante porque as coisas não têm essa separação entre as áreas do conhecimento. Se um rio está poluído, quantas áreas não estarão envolvidas na solução desse problema?”, questiona a educadora.

 

Dicas para trabalhar com a metodologia de projetos

 

Os professores Luiz Felipe e Arabelle dão algumas orientações

 

*      Considere a necessidade ou a vontade dos estudantes. Arabelle conta que o projeto que desenvolveu sobre Shakespeare, por exemplo, veio de uma necessidade de aprenderem determinados conteúdos. “Já o projeto do hip hop partiu de um desejo deles.”

*      Conheça seu aluno. É preciso conhecer o estudante para instigar a curiosidade em aprender.

*      Tenha escuta ativa e olhar atento. A avaliação de um projeto não pode focar apenas no produto final. “O importante é o que eles fizeram para chegar a esse produto e o que eles aprenderam”, afirma Arabelle.

*      Questione a aplicação dos conhecimentos. É preciso olhar para a realidade dos alunos e questionar as aplicações práticas do que está sendo ensinado. “As crianças valorizam muito mais os conhecimentos que elas sabem aplicar”, observa Luiz Felipe.

*      Coloque-se no lugar da criança. Ao pensar em uma sequência didática mediada por projetos, tente se colocar no lugar da criança e pensar se aquilo é interessante.

*      Faça alterações de acordo com as demandas dos alunos. Luiz Felipe relata que é muito interessante, em cada etapa do projeto, discutir com os estudantes se cada ação planejada surtiu efeito e gerou aprendizagem. “A partir daí, planejamos novas ações e vamos avançando, mas eles me auxiliam porque são protagonistas do processo.”

 

Comentários

Postagens mais visitadas